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Chile avança em segundo dia de eleição para mudar sua Constituição

14.mai.2021 - Posto de votação está preparado para eleitores em Santiago, no Chile - 14.mai.2021 - Martin Bernetti/AFP
14.mai.2021 - Posto de votação está preparado para eleitores em Santiago, no Chile Imagem: 14.mai.2021 - Martin Bernetti/AFP

Da AFP, em Santiago

16/05/2021 16h50

O Chile conclui neste domingo (16) dois dias de uma votação histórica para eleger os 155 redatores de uma nova Constituição, destinada a substituir a herdada da ditadura de Augusto Pinochet e responder às demandas das ruas por equidade e bem-estar social.

Os locais de votação reabriram às 8h00 (9h00 de Brasília). Os chilenos devem escolher entre 1.373 candidatos os integrantes da Convenção Constitucional, entre eles atores, escritores, professores, ativistas sociais, advogados e políticos tradicionais.

A Magna Carta anterior, elaborada durante a era Pinochet (1973-1990), é considerada a origem das desigualdades sociais no Chile.

As urnas foram lacradas e guardadas no sábado à noite, dia do início da votação, nos centros eleitorais por mais de 23.000 militares e delegados do Serviço Eleitoral (Servel) sem registro de incidentes, de acordo com a imprensa local.

No sábado, mais de 20% dos 14,9 milhões de eleitores depositaram seu voto voluntário. Devido à pandemia de coronavírus, a votação foi dividida em dois dias após um atraso de cinco semanas desde 11 de abril devido a uma nova onda de covid.

Na repartição do voto por regiões e comunas, havia uma diferença importante entre a alta taxa de participação nos setores mais ricos e conservadores e um baixo influxo nas áreas mais pobres.

"Se hoje o voto é baixo, não se pode culpar a oferta, que é a mais ampla e diversa desde o retorno à democracia. Temos que reconhecer que há abstencionismo estrutural, endêmico. Uma geração inteira que nem existe mais", afirmou no Twitter o acadêmico da Universidade Diego Portales, Claudio Fuentes.

A mudança constitucional de Pinochet foi a forma que o sistema político chileno encontrou para canalizar as manifestações massivas - várias e muito violentas - que estouraram em 18 de outubro de 2019, deixando cerca de trinta mortos e prejuízos milionários no comércio e no mobiliário público.

Quase um mês após o início desses protestos, quando vários prédios estavam em chamas em Santiago, as forças políticas anunciaram um acordo para convocar um plebiscito para decidir sobre a mudança da Constituição, que finalmente foi realizado em 25 de outubro de 2020.

O resultado: 80% de apoio à opção "Aprovo" para a mudança constitucional em um dia que culminou em manifestações. Os 20% que optaram pelo "Rejeito", uma opção que se concentrou nas três comunas mais ricas do Chile.

"Venho (para votar) com a expectativa de que possamos conseguir uma mudança para o país, que possamos construir uma nova Constituição muito distante daquela que nos foi deixada pela ditadura", disse à AFP Guillermo Guzmán, arquiteto de 57 anos.

Além dos constituintes, os chilenos votam em prefeitos, vereadores e, pela primeira vez, governadores regionais, em mais uma etapa em direção a uma sociedade mais participativa.

O processo constitucional também marca a primeira vez no mundo que uma Constituição será redigida por pessoas eleitas de forma paritária. Também fará história ao reservar 17 lugares na Assembleia aos 10 povos originários.

"Posso confessar que votei apenas nas mulheres, não dei o meu voto a nenhum homem porque acredito que também faz parte da mudança, que as mulheres possam assumir cargos de poder e que nos escutem", disse Fabiola Melo, piscóloga educacional de 35 anos.

Constituição que una

A esperança do mundo político é que o processo constituinte - que durará nove meses, prorrogável apenas uma vez por três meses - vire a página da longa transição política que começou quando o Chile recuperou a democracia em 1990.

Nunca antes os chilenos tiveram a oportunidade de participar da elaboração e votação de uma nova Constituição, com a qual, segundo várias pesquisas, os chilenos esperam ter garantidos diversos direitos sociais, como acesso à saúde, moradia e educação.

"Uma boa parte do futuro do nosso país está em jogo na redação de uma Constituição que nos una, não uma que nos separa, como a atual", declarou o pré-candidato presidencial progressista Heraldo Muñoz, após votar no sábado.

Um levantamento da empresa Criteria, divulgado pelo jornal La Tercera, mostrou no sábado que 63% dos chilenos acreditam que o resultado da nova Constituição terá "consequências positivas para o país".

Uma minoria teme, no entanto, que possa levar a uma Constituição muito esquerdista que mude radicalmente o modelo político e econômico ultraliberal do Chile.