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Espanha promete "restabelecer a ordem" em Ceuta após grande fluxo de migrantes

18/05/2021 11h11Atualizada em 18/05/2021 11h54

Fnideq, Marrocos, 18 Mai 2021 (AFP) - O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, promete nesta terça-feira (18) "restabelecer a ordem" no território norte-africano de Ceuta, onde quase 6.000 migrantes chegaram procedentes do Marrocos, uma crise que tem como pano de fundo uma disputa diplomática entre Madri e Rabat.

"Vamos restabelecer a ordem na cidade e nossas fronteiras com a máxima celeridade", afirmou Pedro Sánchez, que pretende visitar ainda nesta terça-feira Ceuta e Melilla, os dois territórios espanhóis no norte do Marrocos.

"Esta chegada súbita de migrantes irregulares representa uma grave crise para a Espanha e também para a Europa", completou Sánchez, uma referência ao fato de que Ceuta e Melilla são as únicas fronteiras terrestres da União Europeia (UE) com a África.

Um correspondente da AFP do lado marroquino da fronteira observou uma situação confusa nesta terça-feira.

Apesar de uma desaceleração no fluxo em direção a Ceuta, centenas de marroquinos que conseguiram chegar ao lado espanhol permaneciam na praia, enquanto as forças de segurança espanholas, que mantêm veículos blindados na região, usavam gás lacrimogêneo para dissuadir novas tentativas.

A multidão que se reuniu perto do posto de fronteira foi dispersada e as pessoas retornavam ao centro da cidade de Fnideq (Castillejos). As forças de segurança marroquinas também foram mobilizadas para bloquear os possíveis migrantes.

A crise acontece em um momento de tensão diplomática entre Espanha e Marrocos, um aliado crucial no combate à imigração irregular.

Rabat se irritou com a decisão do governo espanhol, em abril, de receber o líder do movimento independentista saharaui da Frente Polisário, Brahim Ghali, para que recebesse tratamento por covid-19 em um hospital.

O ministro do Interior da Espanha, Fernando Grande-Marlaska, afirmou que quase 6.000 migrantes entraram de maneira irregular em Ceuta na segunda-feira, um recorde para apenas um dia.

Do grupo, 2.700 foram enviados de volta, indicou o ministro. Pedro Sánchez garantiu que será "devolvido imediatamente todo aquele que entrou irregularmente", segundo os acordos "assinados com o Marrocos há vários anos".

"Marrocos é um país sócio, um país amigo da Espanha e assim deve continuar sendo", destacou Sánchez. "Mas para que resulte efetiva, esta cooperação deve ser baseada, sempre, no respeito às fronteiras mútuas".

A UE expressou solidariedade com Madri e afirmou que Rabat deve impedir a saída de migrantes de seu território.

Na segunda-feira, um homem morreu afogado quando tentava chegar ao território espanhol, informou a delegação do governo de Ceuta.

- "Não tenho futuro" -"Muitos de nossos amigos conseguiram passar, nós viemos mais tarde quando ficamos sabendo. Tentamos pela montanha, mas a polícia nos bloqueou", disse Amal, de 18 anos, ao lado do irmão e de dois amigos.

"Aqui não tenho futuro, meu objetivo é chegar à Europa continental", afirmou Soulaimane, de 21 anos.

Durante a noite, correspondentes da AFP observaram grupos de jovens caminhando para o norte, pela estrada a partir da pequena cidade de Asila.

De modo paralelo, mais de 300 migrantes procedentes da África subsaariana tentaram superar a barreira de segurança no outro enclave espanhol, Melilla, e 86 deles conseguiram, segundo a delegação do governo.

Para Mohamed Benaissa, presidente do Observatório do Norte dos Direitos Humanos, radicado em Fnideq, a nova onda migratória implica principalmente "menores de idade, jovens e família, todos marroquinos".

- Saara Ocidental -Rabat reagiu com indignação e convocou o embaixador espanhol no fim de abril para expressar a "irritação" com a presença em território espanhol de Brahim Ghali, líder da Polisário, um movimento apoiado pela Argélia que reivindica a independência do Saara Ocidental, uma ex-colônia espanhola que Marrocos considera parte integral de seu território.

"Tratava-se e continua se tratando de uma simples questão humanitária", reiterou nesta terça-feira a ministra espanhola das Relações Exteriores, Arancha González Laya, ao defender a decisão de receber Ghali.

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