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Fujimori insiste que houve "fraude" nas eleições no Peru

12/06/2021 15h49

Lima, 12 Jun 2021 (AFP) - A candidata de direita Keiko Fujimori insistiu neste sábado(12) que houve "fraude" na eleição presidencial do Peru realizada no domingo, enquanto a contagem avança lentamente em sua reta final, e é liderada pelo esquerdista Pedro Castillo por cerca de 51.000 votos.

"Há fraude na mesa, manipulação na mesa", "há acontecimentos gravíssimos nesta última etapa" da contagem de votos, disse Fujimori em reunião com a imprensa estrangeira, enquanto suas chances de ganhar a votação parecem cada vez mais reduzidas.

"Vou reconhecer os resultados, mas temos que esperar o fim", prometeu, insistindo que irregularidades teriam favorecido seu adversário, professor de uma escola rural de Cajamarca (norte).

Analistas acreditam que, diante do que parece ser uma vitória iminente de Castillo, Fujimori tenta lançar dúvidas sobre a legitimidade do processo eleitoral para não parecer derrotada e não ver sua liderança política diminuída.

"Ela busca se apegar ao discurso da fraude para não derrubar tudo o que fez. É a maneira de se livrar do fracasso, da queda", analista Hugo Otero, ex-assessor do ex-presidente Alan García, disse à AFP.

- "A esquerda internacional" -"Não há vencedores ou perdedores [ainda] aqui", disse Fujimori, que garantiu que a "esquerda internacional está intervindo" nas eleições no Peru, se referindo aos cumprimentos que Castillo recebeu de importantes líderes latino-americanos, incluindo o presidente argentino, Alberto Fernández, e o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.

"Vimos a saudação do presidente Fernández", lamentou a candidata de 46 anos, que disputa sua terceira eleição.

Diante das saudações do exterior, o governo peruano "foi obrigado" a entregar notas de protesto aos embaixadores desses países, informou a chancelaria.

- "Sem irregularidades graves" -"Se vencermos, espero que eles [os de Castillo] se aproximem", acrescentou a filha do ex-presidente preso Alberto Fujimori (1990-2000). "Vamos construir pontes assim que o resultado acabar."

A Missão de Observação Eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA) afirmou na sexta-feira que a votação no Peru foi um "processo eleitoral positivo" e que não detectou "irregularidades graves".

O relatório dos enviados da OEA, liderados pelo ex-chanceler paraguaio Rubén Ramírez, apoiou o trabalho dos órgãos eleitorais peruanos questionados por Fujimori.

Castillo tem uma vantagem de cerca de 51.000 votos, com 99,88% das mesas apuradas, mas o Júri Eleitoral Nacional (JNE), órgão que analisa o processo e proclama o vencedor, ainda não decidiu sobre os pedidos de contestação de milhares de votos, especialmente feitos por Fujimori.

O prazo para contestação expirou na quarta-feira e Fujimori conseguiu apresentar apenas parte das cédulas que queria que fossem anuladas, segundo a mídia local.

- Fora do prazo -A candidata criticou o JNE por não permitir a contestação dos votos apresentada fora do prazo. O órgão concordou em estender o prazo por dois dias na sexta-feira, mas depois recuou.

Fujimori prometeu indulto a seu pai, que cumpre pena de 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade, mas esclareceu que ele não seria membro de seu eventual governo.

"Meu pai não será funcionário se vencermos", disse ela.

Fujimori também criticou o presidente em final de mandato, o centrista Francisco Sagasti, que na quinta-feira ligou para várias pessoas de ambos os lados para acalmar a situação, incluindo o Prêmio Nobel peruano Mario Vargas Llosa.

"Ficou demonstrado que o presidente Sagasti está interferindo", disse a candidata.

O premiado escritor de 85 anos tem apoiado ativamente Fujimori da Espanha, onde reside, apesar de ter sido antifujimorista no passado.

- Pedido de prisão preventiva -As mudanças no modelo econômico promovidas por Castillo, que despertaram temores entre empresários e investidores, "nada têm a ver com a proposta venezuelana", disse seu principal assessor, Pedro Francke, em entrevista à AFP na sexta-feira.

"Como disse o professor Pedro Castillo, não temos nada a ver com a proposta venezuelana. Não faremos desapropriações, não faremos nacionalizações, não faremos controles generalizados de preços, não faremos controles cambiais", afirmou Francke.

Na quinta-feira, um promotor pediu a prisão preventiva de Fujimori por suposta violação das regras de sua liberdade condicional no caso da construtora brasileira Odebrecht, pela qual ficou presa por 16 meses.

O pedido deve ser decidido por um tribunal em 21 de junho.

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