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Peru inicia nova semana de tensão sem presidente

14/06/2021 22h04

Lima, 15 Jun 2021 (AFP) - O Peru iniciou nesta segunda-feira uma nova semana de incertezas e pressão sobre o Júri Nacional Eleitoral (JNE), que deve resolver as impugnações de votos e proclamar o vencedor do segundo turno de 6 de junho, entre a candidata de direita, Keiko Fujimori, e seu adversário de esquerda, Pedro Castillo.

Oito dias após as eleições, o JNE é criticado pelos fujimoristas, enquanto o seu presidente, Jorge Luis Salas, ressaltou que a decisão das contestações leva "um tempo mínimo", sem dar uma data para divulgar o veredito.

Keiko Fujimori, que deve ir a julgamento por suposta lavagem de dinheiro se não ganhar a presidência, pediu ao JNE que anulasse os votos de centenas de assembleias e denunciou uma "fraude", embora para observadores da OAS a votação tenha sido limpa e "sem irregularidades graves".

"Iremos nos defender com todas as medidas que o Estado de Direito nos permite", afirmou Keiko em vídeo divulgado hoje, no qual anunciou que o advogado Oscar Urviola, ex-chefe do Tribunal Constitucional, assumirá a sua defesa frente aos órgãos competentes.

Além disso, a advogada Milagros Takayama, do partida de Fujimori, o Força Popular, solicitou nesta segunda-feira a realização de uma "auditoria" do processo de digitalização das atas das assembleias de voto, em um novo questionamento ao órgão eleitoral (ONPE), enquanto Castillo, que colocou em dúvida apenas 14 mesas perante o JNE, pede "serenidade" a seus partidários, sentindo-se vitorioso.

O ONPE organiza as eleições e conta os votos, enquanto o JNE tenta apurar as denúncias envolvendo a eleição e proclama o vencedor.

- Michelle Bachelet teme 'fratura social' -A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, expressou sua preocupação nesta segunda-feira sobre a tensão no Peru após as eleições e pediu "calma para evitar uma maior divisão social".

"Chamo-lhes à reflexão, calma e respeito pelos valores democráticos e de não discriminação", declarou Bachelet em mensagem postada no Twitter.

O último cálculo do órgão eleitoral (ONPE) dá ao candidato de esquerda uma vantagem de 49 mil votos (50,14% contra os 49,86% de Fujimori) com 99,93% das urnas apuradas, então agora todo o processo depende do que for resolvido pelo JNE em relação aos pedidos de impugnação para proclamar o vencedor.

"Há pessoas de extrema direita pedindo a anulação da eleição, mas isso quebraria a ordem democrática, porque todos sabemos que Castillo venceu", disse à AFP o analista Hugo Otero.

Manifestações foram convocadas nesta segunda-feira de ambos os lados em Lima, umas para denunciar fraudes e outras para defender seus votos, semelhantes às registradas na semana passada.

"Esta semana é crítica por vários fatores, a credibilidade do JNE e do ONPE está em questão, o que se somaria ao clima social e político contaminado por esta tensa e longa espera", disse a analista e acadêmica Jessica Smith à AFP.

- Proclamação de generais -O Ministério da Defesa esclareceu hoje que a proclamação assinada por 64 generais e almirantes reformados que questiona os órgãos eleitorais e coloca em dúvida a idoneidade das eleições "não representa as Forças Armadas". A pasta informou que os militares aposentados "usaram indevidamente os emblemas das instituições armadas", motivo pelo qual empreenderá ações legais contra os mesmos.

Entre os signatários do texto está o ex-ditador Francisco Morales Bermúdez, 99, que governou o país entre 1975 e 1980.

- Keiko e sua causa judicial -Um promotor solicitou na quinta-feira a prisão preventiva de Fujimori, por supostamente violar as regras de sua liberdade condicional no caso de contribuições ilegais da gigante da construção brasileira Odebrecht. O pedido será decidido por um tribunal em 21 de junho.

O país vive uma turbulência política e chegou a nomear três presidentes em cinco dias em novembro de 2020.

A tensão se soma aos danos causados pela pandemia, que deixa 188 mil mortos no país com a maior taxa de mortalidade de covid-19 do mundo e que neste fim de semana ultrapassou dois milhões de infecções.

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