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O que está em jogo na eleição presidencial iraniana

16/06/2021 10h17

Nicósia, 16 Jun 2021 (AFP) - Do nível de participação nas urnas até a economia, passando pelo acordo sobre o polêmico programa nuclear, estas são algumas questões que dominam a eleição presidencial da próxima sexta-feira no Irã.

Sem candidatos que podem provocar uma disputa real depois que seus rivais políticos mais fortes foram vetados, o ultraconservador Ebrahim Raisi, presidente da Autoridade Judicial, é o grande favorito e pode vencer já no primeiro turno, segundo algumas projeções divulgadas pela imprensa iraniana.

Sete candidatos foram autorizados a disputar a eleição: cinco ultraconservadores e dois reformistas sem verdadeira dimensão nacional. Mas dois deles desistiram nesta quarta-feira, o ex-vice-presidente reformista Mohsen Mehralizadeh e o deputado ultraconservador Alireza Zakani.

- A participaçãoAs autoridades iranianas tendem a transformar cada consulta eleitoral em um referendo de apoio à República Islâmica.

Por este motivo, as principais autoridades do país, especialmente o guia supremo Ali Khamenei, convocaram a população a uma grande participação.

Enquanto os opositores no exílio estimulam nas redes sociais campanhas de boicote da eleição presidencial sob o lema "Não à República Islâmica" em persa, o aiatolá Khamenei declarou no início de junho que abster-se de votar significava cumprir com "a vontade dos inimigos do Irã".

Mas a taxa de abstenção pode superar o recorde de 57% registrado nas legislativas de fevereiro.

As poucas pesquisas de opinião disponíveis apontam uma participação inferior a 40%.

A razão é o sentimento entre muitos iranianos de que a eleição foi decidida de maneira antecipada, ao que se soma uma decepção ou desencanto após oito anos de presidência do moderado Hassan Rohani, que apresenta um balanço econômico desastroso.

Rohani, que não pode disputar a eleição após dois mandatos, afirmou temer que uma falta de mobilização popular no dia da eleição prejudique a "legitimidade" da República Islâmica.

- A economiaA economia iraniana voltou a crescer em 2016, após a assinatura no ano anterior do acordo internacional sobre o programa nuclear de Teerã em Viena, a grande conquista diplomática de Rohani.

Mas a saída dos Estados Unidos do pacto em 2018 e o retorno das sanções americanas afundaram o Irã em uma violenta recessão, que se agravou com a pandemia de covid-19.

Se o PIB iraniano começou a registrar estabilidade em 2020, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), após dois anos de dificuldades, o poder aquisitivo dos iranianos erodiu com a inflação e o país está longe de ter atenuado as consequências sociais dramáticas da recessão.

- O acordo sobre o tema nuclearTodos os candidatos concordam em afirmar que a prioridade para permitir que a economia volte a registrar crescimento é obter a suspensão das sanções americanas, retomadas ou instituídas sob a presidência de Donald Trump, depois que ele criticou o acordo de Viena.

Os aspirantes à presidência apoiam as negociações que acontecem na capital austríaca para tentar salvar o acordo, reintegrando os Estados Unidos com a suspensão das sanções exigida pelo Irã, em troca de Teerã voltar a aplicar de maneira estrita o acordo, que o regime abandonou paulatinamente em resposta à retirada americana.

- A sucessão do guiaÀ margem dos dois primeiros presidentes da República Islâmica - o primeiro foi destituído e o segundo assassinado -, todos os demais desde 1981 foram eleitos para mandatos de quatro anos.

Muitos especialistas em política iraniana destacam que há uma grande probabilidade de que o vencedor da eleição de 18 e 25 de junho (em caso de necessidade de segundo turno) esteja no poder quando surgir a questão da sucessão do guia supremo, que tem 82 anos.

Ali Khamenei ocupava o cargo de presidente quando foi eleito para suceder o fundador da República Islâmica, o aiatolá Ruhollah Khomeini, após a morte deste em 1989.

Vários jornais iranianos consideram a vitória de Raisi uma preparação para que seu nome seja considerado na sucessão, quando chegar o momento, de Khamenei.

Para os analistas de consultoria americana de risco político Eurasia Group, a perspectiva de Raisi suceder Khamenei continua sendo "muito incerta", pois seu potencial pode cair em caso de resultados ruins na eleição ou pelas dificuldades inerentes ao cargo presidencial.

"Se os problemas econômicos se acumularem, há um risco grande de Raisi parecer mais um homem que carrega questões delicadas do que como um futuro guia", destacam.

bur/feb/mar/zm/fp