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Covid-19 coloca a integridade científica na mira

19/06/2021 12h37

Paris, 19 Jun 2021 (AFP) - De um simples erro a uma fraude flagrante, o trabalho científico também tem suas falhas, que a pandemia covid-19 colocou no centro das atenções.

Embora graves problemas sejam raros, a pressa em publicar favorece as violações da "integridade científica", dizem os especialistas.

Em 4 de junho de 2020, a revista The Lancet anunciou a retirada de um estudo sobre hidroxicloroquina alegando que esta droga é ineficaz contra a covid-19 e até perigosa.

Desde sua publicação no final de maio, vários cientistas expressaram publicamente dúvidas sobre sua confiabilidade.

"A retratação deste artigo - que foi bem feito - foi um momento importante. Muitas pessoas pensaram que os artigos científicos não eram confiáveis", disse à AFP Elisabeth Bik, uma das principais figuras da integridade científica.

Esta microbiologista rastreia anomalias em publicações (ensaios mal concebidos, números inconsistentes, links de interesse não declarados, fotos retocadas) que podem constituir "violações da integridade científica".

- Financiamento -No Twitter, em seu blog ou nos comentários na plataforma PubPeer, Elisabeth Bik publica as suas conclusões, deixando que os autores se expliquem e/ou que as publicações corrijam ou mesmo retirem os artigos.

Desde 2013, ela apontou cerca de 5 mil artigos e várias centenas foram corrigidos ou retratados, diz a cientista, que sofre ataques nas redes sociais desde que apontou o que considera anomalias em estudos codirigidos pelo epidemiologista francês Didier Raoult.

Se a atividade de Bik - e de outros cientistas atuantes nas redes sociais - é sua face mais visível, a integridade científica também tem um aspecto mais discreto, dentro das instituições de pesquisa.

No início dos anos 1990, o Escritório de Integridade de Pesquisa, ou Office of Research Integrity (ORI), foi criado nos Estados Unidos e institucionalizado.

- "Efeitos perversos" -Na maioria das instituições de pesquisa, os oficiais de "integridade" lidam com reclamações de "má conduta científica" contra seus próprios pesquisadores.

Nesse contexto, a Universidade de Aix-Marseille (sul da França) investiga desde 2020 as publicações de Didier Raoult e sua equipe sobre o tratamento da covid-19 com a polêmica hidroxicloroquina.

Casos graves (plágio, experimentos falsos, resultados fabricados etc.) são raros, segundo especialistas, mas a crise da covid-19 foi uma "caixa de ressonância para as dificuldades de integridade científica", disse o senador francês Pierre Ouzoulias, co-autor do relatório sobre o assunto em março.

O financiamento é altamente dependente do número de artigos publicados, o que tem "efeitos perversos", explica Catherine Paradeise.

A covid-19 tornou o público ciente da importância do processo científico, mas também faz os pesquisadores temerem que problemas de integridade acabem no tribunal, já que Didier Raoult entrou com uma queixa contra Elisabeth Bik por "assédio moral".

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