Topo

Esse conteúdo é antigo

Mulheres afegãs terão mais dificuldade no acesso à saúde

15/07/2021 13h29

Dand, Afeganistão, 15 Jul 2021 (AFP) - Wati estima ter 30 anos, mas não aparenta nem 25. Casada desde os 18 com um homem muito mais velho, esta jovem afegã está grávida pela quinta vez em quatro anos, incluindo dois abortos.

"Tenho medo de perder o bebê de novo", diz com tristeza à AFP numa precária clínica para mulheres em um vilarejo no distrito de Dand, perto de Kandahar (sul).

A retirada das tropas estrangeiras do Afeganistão levou a um aumento da violência e também começa a privar o país de fundos internacionais. Alguns doadores temem que o Talibã retorne ao poder ou que uma guerra civil estale.

Neste contexto, a situação das mulheres neste país profundamente patriarcal irá, sem dúvida, piorar.

Na clínica chegam mulheres com burcas acompanhadas por um homem da família, mas os homens estão proibidos de entrar e esperam do lado de fora.

"Só tenho permissão para sair de casa para ir ao médico", comenta Wati, apertando contra o peito os laudos médicos, protegidos em um saco plástico.

Khorma, mãe de cinco filhos, acaba de descobrir que está grávida de novo depois de sofrer dois abortos, segundo ela, porque tem que "trabalhar muito em casa".

"Algumas famílias não cuidam bem da gestação: as mulheres dão à luz em casa, começam a sangrar e chegam aqui em estado de choque", diz Husna, que trabalha como parteira.

Essa mulher optou por trabalhar no campo quando viu a situação em que viviam as mulheres nessas áreas do país. "Se eu não venho, quem virá?", comenta. "O Talibã não ataca parteiras, então tenho menos medo", diz.

- Distantes, perigosas e caras -Para muitas afegãs, as clínicas ficam muito distantes, as estradas são perigosas e o transporte é caro.

Em 2018, 41% das mulheres afegãs deram à luz em casa e 60% não receberam nenhum cuidado pós-natal, de acordo com um estudo do KIT Institute, com sede na Holanda, dedicado ao acesso global à saúde.

Dados do UNICEF indicam que 7.700 mulheres morreram durante o parto em 2017, número que é o dobro do de civis mortos naquele ano devido à violência (3.448).

E todos esses números são ainda piores no sul, em áreas controladas pelo Talibã ou palco de combates violentos.

No vilarejo Qasem Pul, Najia vai de casa em casa acompanhando mulheres grávidas.

"Algumas famílias não permitem que as mulheres vão às clínicas, e às vezes os homens não me deixam entrar", diz a parteira.

"Quero começar o planejamento familiar", diz Kela, mãe de cinco filhos e grávida de novo. "Sou pobre e não posso cuidar de todos os meus filhos. Não podemos nem comprar sabonete. Meu marido concorda", explica.

- "Meu bebê morreu" -Na província de Helmand, reduto do Talibã, menos de um quinto das mulheres grávidas tem acesso a pelo menos uma visita durante o período de gestação, de acordo com o KIT Institute.

Em uma clínica móvel administrada pela ONG Action Against Hunger, instalada em uma pequena casa de barro em Lashkar Gah, a capital da província, a parteira Qandi Gul examina mulheres e crianças deslocadas pelo conflito.

"A maioria está doente, as famílias não cuidam", lamenta.

As mulheres esperam com seus filhos doentes no quintal. "Meu bebê morreu porque eu não pude ir a uma clínica ou ver uma parteira", diz Farzana, de 20 anos, que fugiu de sua comunidade controlada pelos talibãs.

Shazia, de 18 anos, foi forçada a casar aos dez e já tem três filhos. Para ir a uma clínica, caminhou três horas. "Foi muito perigoso, algumas mulheres morreram no caminho", conta.

Para chegar a esta clínica para crianças desnutridas, muitas mães desesperadas também arriscaram suas vidas.

Rozia olha para seu filho de sete meses, Bilal, nascido prematuramente, que sofre de pneumonia e desnutrição aguda.

A mulher cruzou uma zona de combate quando a saúde do menino piorou e não sabe se ele vai sobreviver. Já perdeu um filho, também prematuro, quando o hospital onde estava a mandou para casa porque não tinha como cuidar dela. O bebê viveu três dias.

eb-ach/ecl/gle/mas-bl/mb/mr