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Mais um pré-candidato à presidência é preso na Nicarágua

24/07/2021 21h16

Manágua, 25 Jul 2021 (AFP) - Noel Viadurre, pré-candidato à presidência da Nicarágua, foi colocado em prisão domiciliar neste sábado (24), assim como o comentarista Jaime Arellano, ambos acusados de "prejudicar a soberania" do país, informou a polícia, o que eleva a 28 o número de opositores detidos no país.

Três meses antes das eleições, com Viadurre são sete os aspirantes presidenciais presos: Cristiana Chamorro, Arturo Cruz, Félix Maradiaga, Miguel Moral, Juan Sebastián Chamorro - primo de Cristiana - e Medardo Mairena.

Vidaurre, de 66 anos, e Arellano foram colocados "sob custódia policial" em casa, acusados de "minar a independência, soberania, autodeterminação e incitar a intervenção estrangeira", segundo um comunicado policial.

O político disputava pela candidatura da Aliança Cidadãos pela Liberdade (CxL, de direita), um dos grupos credenciados perante a Justiça Eleitoral para as eleições gerais de 7 de novembro.

As candidaturas para presidência devem ser feitas no prazo estabelecido, de 28 de julho a 2 de agosto.

Na Nicarágua, se uma pessoa está sob investigação de crimes ou prisão, não pode se candidatar a cargos eletivos.

O presidente Daniel Ortega, de 75 anos, não anunciou oficialmente que buscará a reeleição, mas seus aliados presumem que ele será o candidato da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN).

Ortega, um ex-guerrilheiro que governou entre 1979 e 1990, voltou ao poder em 2007 e foi reeleito duas vezes consecutivas, em meio a acusações de fraude da oposição. Sua esposa, Rosario Murillo, é a vice-presidente.

Em meio a sanções e críticas da comunidade internacional, Ortega afirma que os detidos não são candidatos ou opositores, mas "criminosos" que se organizaram com financiamento dos Estados Unidos para realizar um golpe.

Vidaurre e Arellano haviam sido intimados ao Ministério Público no sábado para serem entrevistados, sem denúncias de qualquer espécie, segundo contaram a jornalistas quando deixaram o local.

"Nunca disse que a Nicarágua deveria ser sancionada, nem nada parecido (...) Não sei qual é o motivo. Eles não me explicaram absolutamente nada", disse Vidaurre.

A chefe da diplomacia americana para a América Latina, Julie Chung, escreveu no Twitter que: "no dia em que os eleitores nicaraguenses confirmam sua inscrição (no registro), Ortega e Murillo prendem outros dois opositores políticos".

"O candidato presidencial Noel Vidaurre e o jornalista Jaime Arellano são só as últimas vítimas de uma campanha desprezível para criminalizar a oposição pacífica", acrescentou.

- O processo eleitoral continua -As etapas do processo eleitoral, administrado por magistrados, a maioria da FSLN, avançam segundo o calendário e à margem da onda de prisões de opositores.

Neste fim de semana, o Conselho Supremo Eleitoral (CSE) pediu às pessoas para visitarem os centros de votação para confirmar se seus nomes aparecem nos registros para saber onde deverão votar no dia da eleição.

Em visita a estes centros, a magistrada Mayra Salinas disse que "a população está esgotada" atendendo à convocação de checar os registros.

Anteriormente, o grupo CXL denunciou que no registro provisório entregue pelo CSE aos partidos políticos há uma redução de 750.000 cidadãos em relação ao usado nas últimas eleições, em 2016.

"Não sabemos se são cidadãos com cédulas ou se foram eliminados do registro, já que não há um código que os identifique", disse CXL após exigir ao tribunal que explique em "caráter de urgência" como desapareceram quase 800.000 eleitores em quatro anos.

O dia de checagem começou cedo em mais de 3.000 centros de todo o país. Em alguns locais houve presença maciça, com longas filas e sem respeito às regras de distanciamento por causa da pandemia.

A verificação, que transcorreu sem incidentes, conta com o apoio de partidos da oposição com representação parlamentar, aos quais grupos que carecem de legisladores acusam de colaborar com o governo.

Entre os setores sem representação parlamentar, alguns pedem que a população cumpra a checagem para estar preparada para qualquer cenário, enquanto outros a repudiam por considerar que com isso avalizam um processo que qualificam de viciado.

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