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Promotor anticorrupção destituído deixa a Guatemala para 'proteger sua vida'

24/07/2021 20h15

Cidade da Guatemala, 24 Jul 2021 (AFP) - O destituído promotor contra a impunidade na Guatemala, Juan Francisco Sandoval, deixou o país para "proteger sua vida", após apontar que foi impedido de investigar o presidente Alejandro Giammattei, informou uma fonte humanitária oficial.

Conforme destacou a Procuradoria de Direitos Humanos da Guatemala (PDH) nas redes sociais, o ombudsman Jordán Rodas acompanhou Sandoval até a fronteira com El Salvador, "diante da dura decisão de deixar o país para proteger sua vida e integridade devido aos recentes acontecimentos".

O destino final do ex-promotor é desconhecido e fontes de organizações humanitárias salvadorenhas indicam que ele já deixou o país.

A PDH é uma instituição autônoma, criada pelo Congresso, com a tarefa de promover o respeito aos direitos humanos e monitorar o devido processo em casos judiciais. Suas resoluções não são vinculativas.

Sandoval chefiava a Promotoria Especial contra a Impunidade (FECI) e foi destituído nesta sexta-feira por sua chefe, a procuradora-geral María Consuelo Porras, após denunciar a falta de apoio em sua gestão.

A decisão gerou críticas do Departamento de Estado dos EUA, que já o chamou de "campeão anticorrupção", além de questionamentos de grupos humanitários, organizações sociais e empresariais.

Sandoval disse na sexta-feira que seu trabalho na FECI encontrou muitos obstáculos, e que até mesmo foi convidado a não investigar Giammattei sem o consentimento da Procuradoria-Geral.

A destituição foi anunciada em um comunicado do Ministério Público, que informou que Sandoval teve sua confiança retirada.

Neste sábado, cerca de mil guatemaltecos manifestaram seu apoio ao ex-funcionário e pediram a renúncia do presidente e do procurador-geral na Praça Central, em frente à antiga sede de governo da capital. Os manifestantes exibiam cartazes contra as autoridades.

Dezenas rasparam a cabeça com um barbeiro que chegou à praça com suas ferramentas de trabalho como demonstração de repúdio às declarações do presidente de que só "uns 150 carecas chegavam para se manifestar".

"Não somos 150 carecas, pedimos a renúncia da nefasta procuradora que está a serviço do presidente", disse um estudante universitário em um alto-falante, ao mesmo tempo em que recriminou o governante, médico de profissão, pela má gestão da pandemia do novo coronavírus, a falta de vacinas e insumos nos hospitais públicos.

- Reação dos EUA -"A demissão de Juan Francisco Sandoval é um revés para o estado de direito na Guatemala", disse Julie Chung, subsecretária interina do Departamento de Estado para as Américas, no Twitter.

"Contribui para a percepção de um esforço sistemático da Guatemala para enfraquecer aqueles que lutam contra a corrupção", acrescentou. Os Estados Unidos havia até mesmo implementado uma força-tarefa para apoiar a FECI.

A vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 1992, a líder indígena guatemalteca Rigoberta Menchú, rejeitou, condenou e manifestou sua indignação "por esta nova ilegalidade e violação da Constituição" do país.

Da mesma forma, em um comunicado solicitou a restituição do ex-promotor e "renúncia, julgamento e punição dos responsáveis por violar a Constituição".

"Perante este dilema, não há alternativa a não ser convocar e reiterar o apelo à unidade nacional dos nossos povos a uma grande convergência, aliança cívica e cidadã" empenhada na luta contra a corrupção, declarou.

Por sua vez, as entidades que integram o Centro Contra a Impunidade no Norte da América Central (CCINOC), rejeitaram a decisão da procuradora Porras por considerar que significam "retrocessos no combate à corrupção na região".

A FECI foi criada para trabalhar em conjunto com a Comissão Internacional Contra a Impunidade na Guatemala (CICIG), vinculada à ONU, para combater a corrupção e impunidade.

Juntas, a FECI e a CICIG descobriram vários casos de corrupção, incluindo uma fraude na alfândega que terminou com a renúncia do presidente Otto Pérez (2012-2015) e de sua vice-presidente Roxana Baldetti, acusada de liderar o golpe. Ambos foram presos e aguardam julgamento.

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