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Kais Saied, o presidente tunisiano apegado às leis e pouco disposto a negociar

27/07/2021 13h45

Tunes, 27 Jul 2021 (AFP) - Kais Saied, um acadêmico que nunca havia exercido o poder até ser eleito presidente da Tunísia em 2019, preconiza há tempos uma revolução, mas com estrito apego às leis e se opondo às elites políticas e econômicas.

Desde sua chegada ao poder, este austero teórico do direito, de 63 anos, se apresentou como o derradeiro intérprete da Constituição, apoiando-se em suas qualificações em Direito Constitucional para aplicar uma leitura totalmente pessoal.

Assim, ele se negou a receber o juramento de ministros em janeiro, apesar de terem sido validados pelo Parlamento. Na época, alegou que suspeitas de corrupção sobre o gabinete impediam-no de seguir o protocolo.

Antes de sua eleição, boa parte da população o conhecia por tê-lo ouvido comentar, na televisão, os primeiros passos da democracia tunisiana durante a redação da Constituição, aprovada em 2014.

Saied se mostra pouco disposto à negociação e a compromissos, mesmo em meio à crise social e sanitária.

Seu estilo de vida discreto e sua simplicidade confirmam sua imagem de homem irrepreensível e incorruptível, que continuou frequentando seu bairro de classe média.

No entanto, sob sua presidência o Palácio de Cartago se tornou uma fortaleza opaca, na qual ele se cercou de conselheiros muito discretos, entre eles sua chefe de gabinete Nadia Akacha, jurista influente.

Às vezes, ele recebe jovens marginalizados que vão defender sua causa, consolando-os com um abraço forte, o que lhe rendeu o apelido de "presidente dos abraços".

Adepto de um formalismo antiquado, Saied se destaca pelas suas frases enigmáticas em árabe clássico e pelas correspondências oficiais, cuidadosamente caligrafiadas com sua própria mão.

- Crítico do regime parlamentar -Nascido em 22 de fevereiro de 1958, filho de um funcionário municipal e de uma mãe que estudou, mas ficou em casa, Saied cresceu em Rades, subúrbio de classe média no sul da Tunísia.

Fruto da educação pública tunisiana, se formou em uma renomada instituição pública, o colégio Sadiki, como muitos presidentes antes dele, entre eles o pai da independência Habib Burguiba.

Kais Saied encarna a renovação depois de dez anos de uma decepcionante transição democrática no plano econômico e social na Tunísia.

Para o think-tank International Crisis Group (ICG), ele é o principal representante de uma "nova onda soberanista", surgida em um contexto de estagnação econômica e de crescente pressão dos doadores internacionais.

"Seus companheiros de trajetória se dividem principalmente entre membros da esquerda islâmica, inspirados por pensadores iranianos da revolução de 1979, e ex-líderes da extrema esquerda", detalhou o ICG.

Difícil de classificar no espectro político, Saied é abertamente conservador sobre as questões sociais - se opõe à igualdade entre homens e mulheres na herança, ou à abolição da pena de morte -, mas está em total oposição ao partido de inspiração islâmica Ennahdha.

Muito crítico do regime parlamentar e dos compromissos partidários exigidos por este regime, ele defende sua visão de uma descentralização do poder.

Formado aos 28 anos na Academia Internacional de Direito Constitucional da Tunísia, deu aula na Faculdade de Ciências Jurídicas e Políticas da Tunísia de 1999 até sua aposentadoria, em 2018.

Alguns de seus apoiadores o chamam respeitosamente de "professor", apesar dele ter publicado poucos livros e não ter um doutorado.

Pai de duas filhas e um filho, Saied é casado com uma juíza, que raramente aparece ao seu lado.

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