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Castillo se prepara para nomear seu número dois em cerimônia em Ayacucho

29/07/2021 16h35

Ayacucho, Peru, 29 Jul 2021 (AFP) - O novo presidente do Peru, o esquerdista Pedro Castillo, nomeará seu chefe de gabinete nesta quinta-feira (29) em cerimônia com autoridades estrangeiras no local da histórica batalha de Ayacucho em 1824, um dia após sua posse em clima polarizado.

Castillo iniciou seu mandato de cinco anos em meio à esperança de milhares de compatriotas, mas também à preocupação de muitos peruanos que temem uma forte virada para o socialismo após décadas de políticas liberais.

"Ele terá que ser um chefe de gabinete que reflita seu discurso (de posse) na prática e que entre em consenso com Castillo, para que possa governar de forma ampla", disse o analista Hugo Otero à AFP sobre uma nomeação que os peruanos estão esperando há 10 dias.

Em sua posse, Castillo anunciou que enviará ao Congresso um projeto de reforma da Constituição, que favorece o liberalismo econômico e foi promulgada em 1993 pelo presidente Alberto Fujimori, o pai preso de sua adversária no segundo turno, em 6 de junho, Keiko Fujimori.

Keiko respondeu dizendo que seu partido, Força Popular, "será um muro de contenção firme em face da ameaça latente de uma nova constituição comunista", enquanto dezenas de seus apoiadores se manifestaram nas ruas contra o novo governante, um professor rural da região norte de Cajamarca.

"Vamos insistir nessa proposta, mas dentro do marco legal que a Constituição prevê. Teremos que conciliar posições com o Congresso", disse Castillo, cujo partido, Peru Livre, tem apenas 37 das 130 cadeiras. A segunda bancada é a Força Popular, com 24.

- "Precariedade e improvisação" -Castillo também anunciou que não dirigirá o país a partir do Palácio de Pizarro, a casa do governo, já que pretende transformá-la em museu, e prometeu que no final do mandato retomará suas "tarefas habituais de ensino", sugerindo que não pretende ficar para sempre no poder.

A proposta de conversão do Palácio também gerou polêmica e Otero avaliou que "transformá-lo em museu vai exigir uma fortuna".

Castillo e várias autoridades estrangeiras chegaram à cidade andina de Ayacucho na manhã desta quinta-feira para assistir a uma cerimônia na Pampa de la Quinua, cenário da Batalha de Ayacucho em 9 de dezembro de 1824, que selou a independência do Peru e do resto da América.

Milhares de moradores se reuniram desde cedo no local da batalha, a 3.400 metros do nível do mar, onde um obelisco de mármore comemora a vitória patriótica.

Nesse local histórico - onde também se reuniram líderes sul-americanos nas últimas décadas - Castillo empossará o chefe da Casa Civil, cujo nome manteve em segredo, e na sexta-feira nomeará seus outros 18 ministros.

"É incomum que o presidente Castillo não tenha conseguido iniciar seu governo com um gabinete, o que reflete, por um lado, precariedade e improvisação que aprofundam seu sentimento de fraqueza", escreveu o colunista Augusto Álvarez Rodrich no jornal La República.

A nomeação dos principais colaboradores do novo presidente deve dar um sinal aos mercados, que ficaram inquietos com o anúncio da reforma constitucional, embora se tratasse de uma promessa de campanha.

A reforma causa "mais instabilidade" e "um clima de desconfiança", disse o chefe da organização peruana de liderança empresarial (Confiep), Óscar Caipo, à rádio RPP.

"O gabinete, acredito, será amplamente liderado pelo Estado, e não setorizado", disse Otero, ex-assessor do falecido presidente Alan García.

- Virada na política com a Venezuela -Castillo reiterou em sua primeira mensagem que não fará desapropriações, embora tenha esclarecido que promoverá um "novo pacto com investidores privados".

O presidente tem o desafio de reativar uma economia duramente atingida pela pandemia, que despencou 11,12% em 2020, além de acabar com as convulsões políticas que levaram o país a ter três presidentes em novembro de 2020.

Horas após a posse de Castillo, o ministro das Relações Exteriores do governo venezuelano de Nicolás Maduro, Jorge Arreaza, chegou a Lima, cuja visita marca uma virada na política externa do Peru, que em 2019 reconheceu o opositor Juan Guaidó como presidente interino venezuelano, como outros 60 países.

A Venezuela foi um tema recorrente na campanha eleitoral, já que a candidata Fujimori afirmou que seu adversário pretendia seguir os passos de Maduro. Castillo negou ser "chavista" ou querer copiar o modelo venezuelano.

A posse contou com a presença do Rei Felipe VI da Espanha, cinco presidentes (Argentina, Bolívia, Colômbia, Chile e Equador) e dois vice-presidentes (Brasil e Uruguai), além de um enviado do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o secretário da Educação, Miguel Cardona.

Castillo recebeu na segunda-feira um telefonema do chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, que, além de parabenizá-lo, disse-lhe que Washington espera que ele "desempenhe um papel construtivo" em relação a Venezuela, Cuba e Nicarágua.

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