Topo

Esse conteúdo é antigo

Preocupação na Tunísia com detenção de deputados críticos ao presidente Saied

01/08/2021 21h10

Tunes, 2 Ago 2021 (AFP) - Uma semana depois de Kais Saied atribuir a si mesmo poderes executivos na Tunísia, a prisão de vários deputados que criticam o presidente e o fato de que o mandatário ainda não nomeou um primeiro-ministro fazem com que muitos observadores temam uma tendência autoritária no país.

Saied se outorgou plenos poderes em 25 de julho e suspendeu o Parlamento, para "salvar" este pequeno país do Magrebe, que estava sob um bloqueio político paralisante há meses e vem sendo assolado por uma nova onda de covid-19 acompanhada de uma das taxas de mortalidade mais altas do mundo.

Ao introduzir este regime de emergência, denunciado por seus oponentes do partido Ennahdha, de inspiração islâmica, como um "golpe", Saied retirou a imunidade parlamentar dos deputados.

Além das polêmicas detenções nos últimos dias, somam-se as prisões de dois deputados do movimento islâmico-nacionalista Al-Karama, partido ultraconservador aliado do Ennahdha, na madrugada deste domingo.

Maher Zid e Mohamed Affes estão sendo detidos como parte de uma "investigação da justiça militar", explicou o chefe do Al Karama, Seifeddine Makhlouf, no Facebook.

Segundo este advogado, muito crítico do presidente Saied, os dois deputados são acusados de uma altercação em março no aeroporto de Túnis. Eles são acusados de ter insultado policiais da alfândega que proibiram a viagem de uma mulher.

Contatada pela AFP, a promotoria não respondeu. A justiça militar também não divulgou detalhes.

Al Karama é um dos partidos que denuncia um "golpe de Estado".

Na sexta-feira, o deputado independente Yassine Ayari foi preso em aplicação de uma pena de dois meses de prisão pronunciada no final de 2018 por ter criticado o exército, segundo o justiça militar.

A prisão levantou a preocupação de ONGs como a Human Rights Watch e a Anistia Internacional.

- "Ajuste de contas" -Diante dessas prisões, o partido Harak do ex-presidente Moncef Marzouki expressou sua "profunda preocupação". O partido, que não é aliado do Ennahdha na Assembleia, condenou "o ajuste de contas político e a repressão das liberdades, em oposição às garantias prometidas pelo chefe de Estado".

Preocupado em ver o berço da Primavera Árabe voltar ao autoritarismo, o presidente Saied declarou na sexta-feira que não tem idade suficiente para se tornar um ditador. Segundo ele, as prisões atingem apenas pessoas já perseguidas pela justiça.

A comunidade internacional está cada vez mais preocupada. No sábado, os Estados Unidos pediram à Tunísia que volte o quanto antes ao "caminho democrático".

Uma semana após a decisão autoritária, Saied ainda não nomeou um novo primeiro-ministro. Em vez disso, ele nomeou um ministro provisório do Interior, instalou uma célula de crise para controlar a epidemia de covid-19, liderada por um militar, e prometeu combater a corrupção que corrói o país.

Alguns observadores começam a duvidar da linha escolhida por Saied para tirar a Tunísia da crise.

As recentes prisões "são um erro estratégico" e "não estão de acordo com o discurso do presidente", analisou o cientista político Slaheddine Jourchi à AFP.

"Todos esperavam que ele começasse pelos perigosos dossiês de corrupção e travasse uma batalha direta contra partidos conhecidos, mas as primeiras prisões afetam os adversários", lembrou.

No domingo, a postagem nas redes sociais de uma canção à glória do presidente escrita por sua chefe de gabinete também levantou preocupações. Alguns internautas tunisianos denunciaram uma propaganda que lembra o regime do ex-ditador Zine El Abidine Ben Ali.

Impermeável a críticas, o presidente Saied continua a gozar de grande popularidade, após ser eleito com mais de 70% dos votos em 2019, e neste domingo recebeu o apoio das massas nas ruas de Túnis.

kl-rfo/hj/af/gm/am