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Ebrahim Raisi, um religioso ultraconservador na presidência do Irã

03/08/2021 06h16

Teerã, 3 Ago 2021 (AFP) - Sempre usando um turbante preto e um longo manto religioso, Ebrahim Raisi, novo presidente iraniano, é um homem austero que se apresenta como o defensor das classes desfavorecidas e como o paladino anticorrupção.

Aos 60 anos, este "hoyatoleslam" (cargo inferior ao de aiatolá no clero xiita) é um ultraconservador convicto, partidário declarado da ordem atual em seu país.

Raisi está na lista de autoridades iranianas objetos de sanções dos Estados Unidos por "cumplicidade em graves violações dos direitos humanos", acusações rejeitadas pelo governo de Teerã.

Seu lema para a eleição foi o da "luta incessante contra a pobreza e a corrupção". Ele foi eleito em 18 de junho no primeiro turno, em uma votação marcada por uma taxa de abstenção recorde e pelo veto das candidaturas de seus principais adversários.

Candidato derrotado na eleição presidencial de 2017, ele inicia nesta terça-feira o mandato como sucessor de Hassan Rohani, que alcançou em 2015 o acordo com a comunidade internacional após 12 anos de crises pelo programa nuclear iraniano.

Nascido em novembro de 1960 na cidade sagrada de Mashad (nordeste), Raisi foi nomeado procurador-geral de Karaj, perto de Teerã, com apenas 20 anos, após a vitória da Revolução Islâmica de 1979.

Faz parte da engrenagem judicial há mais de três décadas: procurador-geral de Teerã, de 1989 a 1994; chefe adjunto da Autoridade Judicial, de 2004 a 2014, ano em que foi nomeado procurador-geral do país.

- Aluno do Guia Supremo -Raisi não é um homem muito carismático. Assistiu às aulas de religião e de jurisprudência islâmica do aiatolá Khamenei.

De acordo com sua biografia oficial, é professor desde 2018 em um seminário xiita de Mashad. Vários veículos de comunicação iranianos veem-no como o possível sucessor do guia supremo, de 82 anos.

Além disso, é membro da direção da Assembleia de Especialistas, encarregada de nomear o guia supremo.

Casado com Jamileh Alamolhoda, professora de Ciências da Educação na Universidade Shahid-Beheshti em Teerã, com quem teve duas filhas - ambas com diploma de ensino superior -, Raisi é genro de Ahmad Alamolhoda, imã da Oração de Sexta-Feira e representante provincial do guia supremo em Mashad, segunda maior cidade do país.

Provavelmente consciente de que precisa unir uma sociedade iraniana dividida no tema das liberdades individuais - no qual Rohani causou tantas decepções quanto às promessas que fez -, ele jurou, porém, tornar-se um defensor da "liberdade de expressão", dos "direitos fundamentais de todos os cidadãos iranianos" e da "transparência".

- Eliminar a sedição "na raiz" -Atacado por reformistas e moderados por sua falta de experiência política, o ultraconservador afirma que deseja formar um "governo do povo para um Irã poderoso" e prometeu exterminar "os focos de corrupção".

Para a oposição no exílio, o nome de Raisi continua associado às execuções de detentos de esquerda em 1988, quando era vice-procurador do tribunal revolucionário de Teerã.

Ao ser questionado em 2018 e 2020 sobre este episódio obscuro da história recente, Raisi negou qualquer envolvimento, mas prestou "homenagem" à "ordem" para o expurgo, dada - segundo ele - pelo aiatolá Khomeini, fundador da República Islâmica.

Partidário da linha dura ante o "Movimento Verde", criado contra a reeleição de Mahmud Ahmadinejad na eleição presidencial de 2009, declarou na época: "Aos que nos falam de 'compaixão islâmica e de perdão', respondemos: vamos continuar enfrentando os agitadores até o fim e eliminaremos a sedição na raiz".

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