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Talibãs assumem atentados em Cabul e disputam controle de cidades afegãs

04/08/2021 18h31

Cabul, 4 Ago 2021 (AFP) - Os talibãs reivindicaram nesta quarta-feira (4) a autoria de um ataque contra o ministro da Defesa em Cabul, enquanto avançavam em sua ofensiva pelo controle de grandes cidades do país.

Os rebeldes também assumiram o atentado suicida da noite de ontem na capital contra o ministro da Defesa afegão, Bismillah Mohammadi - que escapou ileso -, no qual oito pessoas morreram, e ameaçaram realizar novos ataques contra funcionários do alto escalão do governo.

Esse foi o primeiro ataque de grande magnitude em Cabul em vários meses reivindicado pelos talibãs. Além de prever a retirada de todos os soldados estrangeiros do Afeganistão, o acordo assinado em fevereiro de 2020 em Doha com o governo dos Estados Unidos deveria impedir, em tese, ataques dos insurgentes nas principais cidades do país.

O ataque "é o início das represálias contra (...) os funcionários do governo de Cabul que ordenam ataques e bombardeios em todo país contra civis", para dificultar o avanço dos insurgentes nos centros urbanos, completou.

- Duas grandes explosões -Os ataques de ontem tinham como alvos o ministro Mohammadi e alguns deputados. Duas grandes explosões foram registradas em Cabul, com duas horas de intervalo. Oito civis morreram, e 20 ficaram feridos, segundo um balanço atualizado nesta quarta-feira pelo Ministério do Interior.

Um carro-bomba explodiu diante da casa de um deputado, vizinho do ministro da Defesa, general Bismillah Mohammadi, que está são e salvo. Vários criminosos conseguiram entrar na residência do deputado.

As forças de segurança demoraram cinco horas para acabar com a resistência dos invasores, que foram mortos. Durante esse tempo, muitos residentes de Cabul, atendendo a um apelo lançado nas redes sociais, subiram aos telhados ou desceram às ruas para apoiar, gritando "Allah Akbar" (Deus é o maior), as forças afegãs.

Os talibãs "explodiram bombas em Cabul, mas as pessoas gritavam 'Allah Akbar' (...) essa é a diferença entre os verdadeiros muçulmanos e os falsos", reagiu o presidente afegão, Ashraf Ghani, durante um discurso nesta quarta a autoridades provinciais.

- Escudos humanos -O porta-voz do Ministério da Defesa, Fawad Aman, informou que o Exército afegão lançou hoje um contra-ataque em Lashkar Gah, capital da província de Helmand.

"A operação está sendo realizada lentamente e com cautela, já que os talibãs usam as casas das pessoas como refúgio e os civis como escudo", anunciou Aman no Twitter.

O general Sami Sadat, o soldado de maior patente do Exército no sul do país, exortou os moradores de Lashkar Gah a deixar a cidade em face do contra-ataque na terça-feira. Hoje, seus habitantes tentavam fugir, seguindo as recomendações do Exército.

"As famílias com meios financeiros, ou carro, saíram de casa. Mas famílias que não podem pagar, como nós, têm que ficar. Não sabemos para onde ir, nem como", desabafa Halim Karimi, morador da cidade.

O conflito em Lashkar Gah, cidade com 200 mil habitantes, já custou várias vidas de civis. Pelo menos 40 foram mortos e 118 feridos em 24 horas, segundo dados da a Missão da ONU no Afeganistão (Unama).

A ONU disse ter recebido relatórios sobre o aumento das mortes de civis e os danos à infraestrutura crítica em Helmand e Kandahar. "Os hospitais e trabalhadores da área de saúde estão sobrecarregados devido ao número de feridos", declarou hoje o porta-voz da oganização, Stéphane Dujarric.

- Golpe psicológico - Os talibãs controlam grande parte do interior e das cidades fronteiriças, por onde entraram para preencher o vazio deixado pela retirada das tropas americanas, que, à princípio, terminará em 31 de agosto.

Agora, se concentram nos centros urbanos, com combates sangrentos desde a semana passada nas cidades de Herat, perto da fronteira oeste com o Irã, e Kandahar, no sul, além de Lashkar Gah. A perda desses locais seria um severo golpe estratégico e psicológico para o governo.

Muitos afegãos vivem com medo de um retorno ao poder dos talibãs. O grupo governou o Afeganistão entre 1996 e 2001, impondo um regime islâmico de extremo rigor, até ser derrubado por uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.

A ONG Human Rights Watch (HRW) acusou os talibãs de executarem "sumariamente", por supostas ligações com o governo, soldados, policiais e civis detidos nos territórios que conquistaram recentemente.

Por sua vez, os insurgentes acusaram Washington de promover um "êxodo" ao conceder vistos de seu país a afegãos que trabalharam para os Estados Unidos a fim de evitar que eles sofram eventuais retaliações dos talibãs.

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