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Arrasados pela seca, agricultores da Califórnia derrubam valiosas amendoeiras

05/08/2021 12h14

Huron, Estados Unidos, 5 Ago 2021 (AFP) - Sobrecarregado por uma seca devastadora e restrições de água, Daniel Hartwig não teve escolha a não ser arrancar milhares de preciosas amendoeiras de sua fazenda na Califórnia.

"É de quebrar o coração", ele contou enquanto olhava para a paisagem antes vibrante à sua frente: folhas amareladas e enroladas cobrindo as cascas do que teria sido a colheita de amêndoas deste ano, se a água tivesse chegado.

As raízes estão expostas e apodrecidas e começam a ficar empoeiradas. A temperatura matinal de 40 graus Celsius acelera sua decomposição.

Entre elas estão enormes máquinas que transformarão as "belas amendoeiras de primeira linha" de Hartwig em grandes pilhas de lascas de madeira.

- "Choque brutal" -"É um choque repentino e brutal", diz Hartwig, responsável pela gestão da água na enorme propriedade Woolf Farms, com uma extensão de 8.000 hectares.

Esta é a primeira vez que a fazenda teve que derrubar tantas árvores antes que elas chegassem ao fim de suas vidas.

Tudo na Woolf Farms foi projetado para otimizar o uso da água: de sistemas de irrigação por gotejamento a sensores de última geração instalados em toda a propriedade.

Depois de muitos anos de chuvas fracas e um inverno particularmente seco, as autoridades da Califórnia fecharam as torneiras dos produtores agrícolas. Após uma série de cálculos, a fazenda decidiu enfrentar a dura realidade.

"Não há água suficiente no mercado" para manter as amendoeiras vivas, disse Hartwig. "Certamente é doloroso fazer essas mudanças".

E a razão é muito simples: o mercado de amêndoas da Califórnia fatura cerca de seis bilhões de dólares por ano.

- "Bandidos"-A Califórnia produz 80% das amêndoas consumidas no mundo. Seu mercado dobrou em 15 anos graças à demanda por substitutos para produtos de origem animal, como o leite de amêndoa.

As amêndoas da Woolf Farms chegam à Índia ou à Austrália. "Há uma percepção de que os agricultores estão aqui para desperdiçar água", disse Hartwig. "Parece que somos os bandidos", acrescenta.

Para irrigar as plantações que conseguiu preservar, a Woolf Farms bombeia água do subsolo.

"Estou orgulhoso de podermos alimentar o mundo a partir daqui", diz ele. "Se não tivermos as ferramentas para fazer isso, de onde virá a comida?".

Dirigindo pela propriedade, que se estende até onde a vista alcança, Hartwig apontou uma série de campos em pousio.

"Isso tudo deveria ser uma fazenda. Agora é apenas um canteiro de plantações. Fizemos o que podíamos", diz ele, resignado.

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