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Denunciada 'tortura psicológica' em opositores presos na Nicarágua

01/09/2021 18h39

Manágua, 1 Set 2021 (AFP) - Familiares e um advogado de opositores do governo de Daniel Ortega, presos por "traição à pátria", entre os quais estão aspirantes à Presidência, denunciaram nesta quarta-feira (1) que os dissidentes sofrem práticas de "tortura psicológica".

A dois meses das eleições gerais, o governo permitiu na terça-feira pela primeira vez desde junho - quando começou a onda de detenções que afetou 34 opositores - "visitas dos familiares", segundo um comunicado do Ministério Público.

Após as visitas, os parentes dos detentos criticaram as condições de prisão de seus familiares: confinamento sem que possam ver uns aos outros, só têm permitido um banho de sol por semana, há uma luz acesa 24 horas por dia em suas celas, não são permitidos a ler, assistir à televisão ou realizar outras atividades.

Entre os detentos que foram vistos por seus familiares estão os aspirantes à Presidência Félix Maradiaga, Juan Sebastián Chamorro e Arturo Cruz, assim como a ex-guerrilheira Dora María Téllez e a líder social Violeta Granera.

Em um comunicado emitido em Washington, Jared Genser, advogado internacional dos aspirantes à Presidência Félix Maradiaga e Juan Sebastián Chamorro, expôs em um comunicado que, embora "não tenham sido agredidos fisicamente, sofreram tortura psicológica desde que entraram na prisão".

Desde sua detenção em 8 de junho, Maradiaga e Chamorro perderam entre 10 e 12,5 quilos e embora não tenham sido nem agredidos, nem torturados fisicamente, têm estado confinados e são "submetidos a interrogatórios frequentes e duros", enumera o texto.

"Está bem, magrinha, mas bem, estava super emocionada, chorando... Não me reconheceu de imediato. Não tem nem lençol, nem travesseiro, não lhe permitem ter nem a bíblia, bem terços", relatou nas redes sociais Julio Sandino, filho de Granera.

Os opositores presos, entre os quais estão sete pré-candidatos à Presidência e críticos do governo, alguns são acusados pelo MP de lavagem de dinheiro, e outros de "traição à pátria", segundo uma lei promovida pelo governo e que pune com a prisão quem promover ou incitar a ingerência estrangeira ou aplauda sanções contra o país.

Ortega, no governo desde 2007, aspira a um quarto mandato presidencial nas eleições de novembro, após duas reeleições sucessivas.

Além de permitir as visitas, o MP iniciou o processo de acusar formalmente os detidos.

Familiares de Maradiaga e Chamorro foram informados de que ambos têm prevista uma audiência preliminar sobre as acusações de menosprezo à integridade nacional e conspiração nesta sexta-feira. A audiência ocorrerá a portas fechadas e nas celas de El Chipote, o que consideram "uma violação aos seus direitos e ao devido processo".

"Deve ser uma audiência pública e aberta; seus advogados devem ter acesso ao expediente judicial e a seus clientes", reagiu Genser.

jr/lda/mvv