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Falta de progressos com Irã frustra Ocidente

23/09/2021 20h47

Nova York, 23 Set 2021 (AFP) - Americanos e europeus não escondem sua frustração, e até um certo aborrecimento, com o Irã, que não deu nenhuma "indicação clara" nas Nações Unidas sobre o que pensa em relação à retomada das negociações para salvar o acordo sobre seu programa nuclear.

"A janela de oportunidades está aberta, mas não permanecerá eternamente assim", disse um funcionário do alto escalão americano nesta quinta-feira.

Os ocidentais esperavam que a reunião anual da ONU lhes permitisse conhecer o novo governo iraniano, com o discurso pré-gravado do presidente ultraconservador Ebrahim Raissi e os múltiplos encontros nos bastidores com seu ministro das Relações Exteriores, Hossein Amir-Abdollahian, que está em Nova York.

Em seu discurso na terça-feira, Raissi denunciou veementemente os Estados Unidos e disse que apoiava um retorno às negociações indiretas com Washington em Viena, embora não tenha dado um cronograma.

Esses contatos indiretos foram retomados com a intermediação dos europeus, da China e da Rússia, os demais signatários do acordo de 2015.

"Ainda não temos um acordo com o Irã para retornar às negociações em Viena", declarou o secretário de Estado americano, Antony Blinken, nesta quinta-feira.

"Estamos bem preparados para continuar o diálogo em Viena. E a questão é se - e quando - o Irã estará pronto", continuou. "Não esperamos uma resposta para isso", concluiu ao deixar a Assembleia Geral da ONU.

Trata-se de salvar o texto que impediu a república islâmica de se munir da bomba atômica e do qual se retirou em 2018 o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump.

Seu sucesso, Joe Biden, se disse disposto a retomar o acordo e levantar pelo menos parte das sanções que Trump reintroduziu contra o Irã. Mas com a condição de que Teerã volte a cumprir com os compromissos que assumiu em matéria nuclear e que deixou de respeitar para protestar contra a "pressão máxima" dos Estados Unidos.

As negociações foram suspensas após a eleição presidencial iraniana, em junho, pois o novo governo alegou que precisava de tempo para redefinir sua posição.

Enquanto isso, os chanceleres francês, alemão e britânico, assim como o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, viram ou vão ver seu homólogo iraniano com uma única exigência.

A britânica Liz Truss "exortou o Irã a retomar as negociações imediatamente", de acordo com um comunicado de Londres na mesma linha de seus aliados.

"Após a semana da Assembleia Geral da ONU, o retorno ao pleno respeito" do acordo sobre o programa nuclear iraniano "continua sendo a prioridade", tuitou hoje o negociador europeu do acordo, Enrique Mora. Segundo ele, todas as grandes potências que assinaram o texto de 2015 com Teerã "concordam com a necessidade de retomar as negociações o quanto antes, no ponto em que pararam" em junho. "As negociações não devem começar do zero", assinalou o russo Mikhail Ulyanov, também no Twitter.

Mas essa frente unida deixará Nova York de mãos vazias. "Nada aconteceu ou mudou, nem estamos mais otimistas" na ONU, disse uma autoridade americana, que não quis ser identificada. "No momento, não há nenhuma indicação de que o Irã esteja disposto a retornar e tentar resolver as questões pendentes", lamentou.

De acordo com Borrell, o ministro iraniano disse estar disposto a relançar o processo de Viena "em uma data próxima". Em Teerã, seu porta-voz permaneceu ambíguo, falando em uma retomada "nas próximas semanas".

- Plano B -"Não sentimos que eles querem acelerar as coisas", disse uma fonte diplomática francesa. Os iranianos rejeitaram a realização da tradicional reunião ministerial dos países-membros do acordo, organizada todos os anos paralelamente à assembleia da ONU.

"Estamos dispostos a mostrar que temos paciência, mas já faz três meses. Desde então, o programa nuclear do Irã se fortaleceu", comentou o funcionário americano.

Antes de reiterar o alerta de Washington: será tarde demais para salvar o acordo, embora por enquanto seja um ultimato sem prazo. E o governo Biden terá que implementar um plano B que, por enquanto, mantém em segredo absoluto.

Para Barbara Slavin, especialista do centro de reflexão americano Atlantic Council, os iranianos ainda não escolheram seus negociadores e "tentam compreender se podem conseguir algo mais" do que o governo anterior. Mas dada a situação econômica do país, eles terão que "retornar à mesa de negociação. Eles realmente precisam que as sanções sejam levantadas."

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