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Acampamento de migrantes haitianos no norte do México esvazia

24/09/2021 19h49

Ciudad Acuña, México, 24 Set 2021 (AFP) - Roupas e mantas embaladas e cada vez menos gente. O acampamento de haitianos na fronteiriça Ciudad Acuña ia esvaziando nesta sexta-feira (24) à medida que se esgotavam as opções para que os migrantes pudessem cruzar do México para os Estados Unidos.

Do outro lado do rio Bravo, no Texas, também saíram todos os migrantes acampados debaixo de uma ponte, que já menos de uma semana chegaram a ser 15.000, informou nesta sexta o governo americano.

Na primeira hora do dia, os haitianos que permaneciam no parque Braulio Fernández desta cidade, fronteiriça com Del Río (Texas), eram cerca de 200, um terço dos que ocupavam o local no começo da semana, constatou a AFP.

Vários fatos foram decisivos: uma operação policial ao amanhecer de quinta-feira, as mais de mil deportações dos Estados Unidos e o anúncio do Instituto Nacional de Migração (INM) de que aqueles que quiserem concluir seu trâmite de refúgio terão que voltar a Tapachula, no extremo sul do México, colapsada por dezenas de milhares de migrantes haitianos e centro-americanos.

"Muitos saíram apressados, muitos foram dormir no campo, não sei onde ficaram. É por isso que esta manhã tem pouca gente", explicou Enel Germain, um haitiano de 31 anos.

Seu compatriota Johnny Jose, de 27 anos, assegurou que na madrugada de sexta houve um corte da eletricidade que fez muitos temerem a iminência de uma nova operação, embora na quinta-feira não tenha havido capturas.

Depois disso, estima-se que cerca de 150 tenham deixado o parque com destino desconhecido.

A AFP constatou que dezenas de haitianos chegaram nas últimas horas à cidade de Monterrey (Nuevo León, nordeste), provenientes do estado de Coahuila, onde fica a Ciudad Acuña.

- Pressão -As barracas de camping erguidas no parque, que chegaram a 50, também diminuíram a um terço. Outros migrantes que nunca tiveram onde se abrigar continuam na intempérie ou refugiados em um salão precário, onde dormem sobre papelões.

Os que restam matam o tempo caminhando de um lado para outro, estendidos no chão ou conversando sobre o caminho a seguir.

Para Germain, que viaja acompanhado da esposa e do filho de quase 3 anos, sair no meio da escuridão foi muito arriscado.

Mas o medo de que os agentes migratórios os obriguem a voltar para Tapachula, uma cidade que muitos descrevem como "um inferno", bastou para que vários decidissem partir.

Germain sustenta que "muitos cruzaram o rio" que separa o México dos Estados Unidos com seus filhos por volta das cinco da manhã, com o céu ainda escuro e sob o risco de ser arrastados pela correnteza.

A menor presença de haitianos em reação às medidas tomadas pelas autoridades mexicanas coincidiu com a declaração do presidente Andrés Manuel López Obrador, nesta sexta, de que não quer que seu país se torne "um acampamento de migrantes".

Por isso, o presidente de esquerda voltou a urgir que os Estados Unidos acelerem a liberação de uma verba anunciada de 4 bilhões de dólares para investir nos países onde os fluxos migratórios têm origem.

Seu contraparte americano, Joe Biden, assegurou nesta sexta que a dura repressão que agentes montados da patrulha fronteiriça exerceram no domingo passado contra haitianos que tentavam cruzar o rio Bravo terá "consequências".

- A atividade diminui -A presença de muitos voluntários, que nos dias anteriores entregaram aos migrantes todo tipo de ajuda, de comida, bebidas, roupas ou implementos para acampar, como mantas ou grandes pranchas de papelão, escasseou, com apenas alguns oferecendo café ou pratos com cereais.

Voluntários da organização Médicos em Fronteiras confirmaram à AFP que o êxodo tinha reduzido o tempo de atendimentos que ofereciam nos dias anteriores, quando flutuavam entre 80 e 120 por dia.

A volta a Tapachula, proposta pela Migração como alternativa para os haitianos representa não só um recuo geográfico, mas também um duro golpe após o esforço financeiro e humano que representou para eles chegar até a fronteira com os Estados Unidos.

Muitos vieram do Brasil e do Chile após cruzar uma dezena de países.

"Passei muita calamidade para vir aqui, tenho uma prima que morreu no caminho no Panamá porque caminhou muito, ela sofria da pressão e morreu", conta Yvrose Nemorin, uma mulher de 42 anos.

Vários haitianos entrevistados estimam ter gasto cerca de 1.000 dólares para viajar do sul do México até a fronteira norte.

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