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Conferência no Curdistão iraquiano pede normalização das relações com Israel

25/09/2021 11h30

Erbil, Iraque, 25 Set 2021 (AFP) - Mais de 300 iraquianos, incluindo líderes tribais, pediram que as relações entre Iraque e Israel sejam normalizadas em uma reunião no Curdistão autônomo organizada por um grupo americano, o primeiro apelo nesse sentido e que gerou uma série de condenações neste sábado (25).

Como esperado, a presidência do Estado, o governo central e as facções políticas atacaram o colóquio, que aconteceu na sexta-feira (24), organizado pelo Center for Peace Communications (CPC), um think tank de Nova York comprometido com a questão da normalização entre Israel e os países árabes e a reaproximação das sociedades civis.

A região autônoma curda do norte do Iraque mantém relações cordiais com Israel.

No entanto, em Bagdá, os partidos políticos aliados do Irã - inimigo do Estado judeu - se opõem a uma abertura.

Os 300 participantes, entre sunitas e xiitas, reunidos em Erbil, a capital do Curdistão, vieram "de seis províncias: Bagdá, Mossul, Saladin, Ambar, Diala e Babilônia", disse o fundador do CPC, Joseph Braude, um especialista americano de origem judaica iraquiana.

"Há também chefes tribais dessas províncias, intelectuais e escritores", continuou Braude, contactado por telefone pela AFP.

"Exigimos nossa integração aos Acordos de Abraão. Assim como esses acordos estabelecem relações diplomáticas entre os signatários e Israel, também queremos relações normais com Israel", afirma o comunicado final lido por Sahar al-Tai, diretora de pesquisas do ministério da Cultura em Bagdá.

Sob mediação de Washington, os "Acordos de Abraão" foram assinados em setembro de 2020 para normalizar as relações entre Israel, os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein. Em seguida, juntaram-se Marrocos e Sudão.

"Nenhuma força, local ou estrangeira, tem o direito de nos impedir de fazer tal apelo", declarou Tai.

Entre os palestrantes iraquianos estavam um ex-general e um dos líderes dos "Sahwa", milícias tribais que lutaram contra extremistas islâmicos com o apoio de Washington.

Nas últimas décadas, vários líderes do Curdistão iraquiano visitaram Israel e políticos curdos pediram abertamente a normalização com este país.

Em 2017, quando os curdos iraquianos realizaram seu polêmico referendo de independência, uma das poucas vozes de apoio veio justamente de Israel.

Em Bagdá, o governo central denunciou uma "reunião ilegal" em Erbil, que "não representa (a opinião) da população iraquiana e dos moradores das cidades iraquianas".

Da mesma forma, a presidência do Estado, chefiada pelo curdo Barham Saleh, condenou o apelo à normalização.

Por sua vez, o poderoso líder xiita Moqtada Sadr, com influência política decisiva, pediu ao governo que "prendesse todos os participantes".

E um dos deputados do grupo parlamentar Hachd al-Chaabi, ex-paramilitares pró-iranianos integrados às forças regulares, chegou a denunciar um "ato criminoso".

"Todos os que organizaram e participaram deste encontro são traidores aos olhos da lei, devem ser julgados e receber as penas mais severas", escreveu Ahmed Assadi nas redes sociais.

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