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Fim de aulas particulares do exterior priva crianças chinesas de abertura cultural

25/09/2021 11h17

Pequim, 25 Set 2021 (AFP) - Sam Josti se conectava todas as manhãs de sua casa nos Estados Unidos para ensinar crianças do outro lado do mundo, em um dos milhares de cursos particulares em língua estrangeira que ofereciam às crianças chinesas uma janela para a cultura ocidental.

Mas professores como Josti, de Massachusetts, foram atingidos pela dura repressão de Pequim a essas aulas extracurriculares.

Empresas de ensino de línguas estrangeiras haviam aproveitado a enorme demanda por inglês na China, onde muitos pais buscam educar melhor seus filhos no competitivo sistema educacional.

Mas isso teve um fim abrupto em agosto, quando Pequim anunciou uma reforma educacional que passou a proibir as empresas privadas de contratar educadores no exterior.

As autoridades chinesas apresentaram as medidas, que também forçaram essas plataformas educacionais a operar sem fins lucrativos, como necessárias para aliviar o estresse nos alunos e reduzir os custos da educação.

Os críticos, porém, apontam que as mudanças servem para impedir que as crianças chinesas recebam influência do exterior, já que o governo, cada vez mais nacionalista, busca reafirmar sua ideologia nas salas de aula.

"Eu entendo que queiram diminuir a pressão sobre os pais (...) mas não entendo por que tão repentino e rígido", disse Josti, de 44 anos, que leciona online desde 2017.

"Estávamos servindo de ponte entre os dois países e parece que foi rompida antes de ser concluída", disse à AFP. "Em um nível pessoal, é doloroso."

- Valores -Cindy Mi, fundadora da plataforma online VIPKid, comentou em março na televisão estatal chinesa que sua empresa tinha 800 mil alunos chineses, no que ela definiu como uma "sala de aula global".

Mas alguns meses depois, VIPKid anunciou que não iria mais dar aulas de inglês com tutores no exterior devido às novas regras.

O mesmo aconteceu com outros sistemas de educação a distância, como GOGOKID e 51talk.

Tim Gascoigne, educador canadense da VIPKid, disse que as mudanças fecharam um espaço interessante de intercâmbio cultural e aprendizado.

As reformas parecem fazer parte de um conjunto mais amplo de medidas para controlar o que é ensinado nas salas de aula, depois que, no ano passado, a China proibiu materiais educacionais estrangeiros e ordenou que a ideologia do presidente Xi Jinping fosse ensinada em todas as escolas.

Os líderes chineses "prestam atenção a vários fatores, como valores socialistas, patriotismo e soberania educacional", explica Claudia Wang, especialista em educação da consultoria Oliver Wyman.

"Pode ser difícil ter um professor americano ou europeu para ensinar história ou patriotismo a uma criança chinesa", comenta.

Como ainda existe uma grande procura por esse tipo de aula em inglês, os especialistas afirmam que está surgindo um mercado negro.

Algumas plataformas de ensino buscam recrutar professores estrangeiros na China para dar aulas, segundo Jessica, que trabalhou em uma agência de educação em Pequim.

Outros professores oferecem aulas alternativas nas redes sociais.

Em 2017, havia mais de 400.000 educadores estrangeiros na China, de acordo com um estudo da imprensa estatal, embora alguns tenham saído por causa da pandemia e do rígido controle das fronteiras.

"A maioria das crianças que conheço ainda tem uma maneira de aprender inglês e adquirir o que precisam", admitiu Jessica.

Muitos pais chineses preferem professores estrangeiros para praticar a conversação e aprender inglês oral, de acordo com a mãe de família Wang Xiaogui.

"Minha filha sente muito a falta da sua professora", disse Wang, cuja filha Wendy, de 14 anos, tinha aulas com uma americana na cidade de Shaoxing.

"A professora realmente se preocupava com a minha filha", acrescentou.

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