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Puigdemont voltará a Bruxelas, mas promete retornar à Itália para audiência de extradição

25/09/2021 16h20

Alghero, Itália, 25 Set 2021 (AFP) - Após ter sido detido brevemente na ilha italiana da Sardenha, o ex-presidente catalão Carles Puigdemont anunciou neste sábado (25) que viajará na segunda-feira para a Bélgica, onde mora, mas garantiu que voltará no começo de outubro à Itália para uma audiência sobre sua extradição, pedida pela Espanha.

"Tenho previso voltar na segunda-feira a Bruxelas porque tem reunião da comissão de comércio exterior, da qual sou membro", disse Puigdemont, que é eurodeputado, na cidade de Alguer, na Sardenha (oeste), onde foi detido na noite de quinta-feira.

Na sexta, ele foi libertado por um juiz sem medidas cautelares, que o intimou a comparecer em 4 de outubro em uma audiência sobre o pedido de extradição, à qual vai se apresentar pessoalmente.

"Em 4 de outubro fui intimado à corte de Sassari. Efetivamente, vou comparecer, porque todas as vezes que fui convocado pela justiça, compareci", explicou este ex-jornalista de 58 anos, que deixou a Espanha após a frustrada declaração de independência catalã, em 2017.

Puigdemont foi detido na noite de quinta-feira, ao chegar ao aeroporto de Alguer, onde tinha previsto participar de um evento cultural, que tem uma forte herança catalã desde os tempos em que pertenceu à Coroa de Aragão.

Na sexta-feira, foi solto e terá que se apresentar à justiça italiana em outubro nesta audiência sobre o pedido de sua extradição feito pela Espanha. Mas, enquanto isso, poderá deixar livremente a ilha e o país.

- "Nunca nos renderemos" -O líder independentista tem sua extradição pedida pela Espanha por sedição e malversação de fundos relacionados com o processo frustrado de independência da Catalunha, em 2017.

Carles Puigdemont também disse que vai continuar viajando pela Europa, desafiando a ordem de detenção europeia emitida por Madri há quase dois anos. "Não nos renderemos e vou continuar viajando pela Europa", garantiu.

Segundo ele, sua detenção e posterior libertação pela justiça italiana "dão razão" à "luta pela liberdade, pela democracia e para defender o direito à autodeterminação, a liberdade de expressão, a liberdade de circulação" dos separatistas catalães.

Segundo seu advogado italiano, Agostiangelo Marras, a decisão sobre sua extradição poderia levar semanas.

Esta é a terceira vez que Puigdemont é detido desde que fugiu da Espanha, a primeira em Bruxelas, em sua chegada, e a segunda na Alemanha, em março de 2018, onde os tribunais demoraram quase quatro meses para decidir por sua liberdade.

O ex-presidente, eurodeputado desde 2019, gozou durante um tempo de imunidade, mas esta foi suspensa pelas instâncias europeias este ano, uma decisão confirmada depois pelo Tribunal General da União Europeia.

Contra ele há uma ordem de detenção europeia, emitida pela Espanha em 2019, que, segundo os advogados de Puigdemont, estava suspensa à espera de uma decisão do Parlamento europeu sobre um recurso a respeito da imunidade do ex-dirigente catalão.

- "Estou livre" -Na manhã deste sábado, o líder separatista foi cercado pela multidão em Alguer em sua primeira aparição pública desde que deixou a prisão de alta segurança de Sassari.

"Estou muito contente de estar aqui, de desfrutar deste evento cultural e linguístico", disse à AFP, cercado de adeptos nas ruas da parte antiga da cidade, que reúne anualmente já quatro décadas personalidades políticas e culturais da Catalunha e da Sardenha.

"Estou acostumado a ser perseguido pela Espanha, mas sempre termina do mesmo jeito. Estou livre e vou continuar brigando", acrescentou.

Em seguida, ele se reuniu com o prefeito da cidade, Mario Conoci; com o presidente da região sarda, Christian Solinas; com o presidente catalão, Pere Aragonès, e com a presidente do Parlamento da Catalunha, Laura Borràs.

"Esta soltura não é uma liberdade completa até que não possa voltar à Catalunha livre, como cidadão livre", disse Aragonès após se reunir com Puigdemont.

"Exigimos mais uma vez a retirada de todas as ordens de detenção", acrescentou.

A tentativa de secessão de 2017 constituiu uma das piores crises políticas na Espanha desde o fim da ditadura de Francisco Franco, no fim dos anos 1970, e ainda condiciona a política nacional.

Apesar da proibição da justiça, o governo catalão, presidido por Puigdemont, organizou em 1º de outubro de 2017 um referendo de autodeterminação, marcado por cenas de violência policial.

Semanas depois, o Parlamento catalão declarou unilateralmente a independência, ao que o governo espanhol conservador de então respondeu colocando sob tutela a região e detendo os dirigentes do movimento separatista que não tinham fugido para o exterior.

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