Ex-secretária de campo de concentração, 96 anos, foge e é encontrada antes do julgamento
Itzehoe, Alemanha, 30 Set 2021 (AFP) - Uma ex-secretária de um campo de concentração nazista, de 96 anos de idade, que fugiu antes do início de seu julgamento nesta quinta-feira (30) na Alemanha, foi colocada em prisão provisória.
No fim de um dia tumultuado, o tribunal de Itzehoe (norte) ordeou a prisão provisória para a acusada, cujo julgamento será retomado em 19 de outubro.
Na manhã desta quinta-feira, 20 minutos após o horário previsto para o início do julgamento na cidade de Itzehoe, norte da Alemanha, o presidente do tribunal anunciou a fuga da acusada e emitiu uma ordem de detenção.
"Abandonou seu lar (para pessoas da terceira idade) esta manhã. Pegou um táxi", disse Milhoffer.
Irmgard Furchner, que no momento dos crimes atribuídos a ela tinha entre 18 e 19 anos, será a primeira mulher envolvida com o nazismo julgada em várias décadas no país.
O processo precederá o julgamento de um ex-guarda, de 100 anos, do campo de concentração nazista de Sachsenhausen, perto de Berlim, que começará na próxima semana.
A Alemanha, que por muito tempo hesitou em procurar seus criminosos de guerra, nunca havia julgado ex-nazistas tão idosos.
O julgamento de Furchner acontecerá às vésperas do 75º aniversário da condenação à morte por enforcamento em Nuremberg de 12 dos principais dirigentes do Terceiro Reich.
- Ordens de execução -Segundo a revista Der Spiegel, a acusada já havia informado à Justiça suas intenções de fugir, com uma carta enviada há algumas semanas ao presidente do tribunal.
Na carta, ela afirmou que "boicotaria o processo (...) já que seria degradante para ela participar dele", explicou à AFP o advogado Christoph Rückel, que representa juridicamente os sobreviventes da Shoah há anos.
Este comportamento gerou indignação. "Isso mostra desprezo com os sobreviventes e o Estado de Direito", disse Rückel.
"Embora essa mulher seja muito velha, o tribunal não deveria ter tomado mais precauções?", questionou o advogado.
"Se estava em estado bom o suficiente para fugir, está bem o suficiente para ir para a prisão!", disse Efraim Zuroff, presidente do Centro Simon Wiesenthal, que persegue judicialmente os nazistas ainda vivos.
A acusação afirma que a nonagenária participou do assassinato de detentos no campo de concentração de Stutthof, na atual Polônia. Lá, trabalhou como datilógrafa e secretária do comandante do campo, Paul Werner Hoppe, entre junho de 1943 e abril de 1945.
Quase 65.000 pessoas morreram no campo, perto da cidade de Gdansk, incluindo "prisioneiros judeus, guerrilheiros poloneses e prisioneiros de guerra soviéticos", segundo a Promotoria.
Segundo Rückel, "ela foi responsável por toda correspondência do comandante do campo".
"Também digitou as ordens de execução e de deportação e colocou suas iniciais", declarou o advogado à emissora regional pública NDR.
Após um longo procedimento, a Justiça considerou em fevereiro que a idosa estava apta para comparecer a julgamento, apesar da idade avançada. As audiências deveriam durar apenas poucas horas a cada dia.
- Morte de suspeitos -Passados 76 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, a Justiça alemã continua procurando ex-criminosos nazistas ainda vivos.
Diferentes promotores alemães estão examinando, atualmente, oito casos que envolvem, em particular, ex-funcionários dos campos de Buchenwald e Ravensbrück, informou à AFP o Escritório Central para o Esclarecimento de Crimes do Nacional-Socialismo.
Nos últimos anos, vários processos foram abandonados pela morte dos suspeitos, ou por sua incapacidade física de comparecer aos tribunais.
Apesar de a Alemanha ter condenado na última década quatro ex-guardas ou funcionários dos campos nazistas de Sobibor, Auschwitz e Stutthof, o país julgou poucas mulheres envolvidas com o regime nazista, relatam historiadores.
A Justiça examinou os casos de pelo menos três funcionárias de campos nazistas. Entre eles, estava o de outra secretária que trabalhava em Stutthof, mas ela faleceu no ano passado, antes da conclusão do processo.
Quase 4.000 mulheres trabalharam como guardas nos campos de concentração, segundo os historiadores, mas poucas foram julgadas após a guerra.
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