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Céu ameaçador a um mês da COP26, crucial para o clima

04/10/2021 05h57

Paris, 4 Out 2021 (AFP) - A um mês da COP26 sobre o clima, os líderes do planeta são pressionados por todos os lados a agir de forma rápida e decisiva para conter um aquecimento "catastrófico", mas, entre a crise da covid-19 e a raiva dos mais vulneráveis, as negociações se anunciam tempestuosas.

"Podemos salvar nosso mundo, ou condenar a humanidade a um futuro infernal", advertiu o secretário-geral da ONU, António Guterres, na última quinta-feira (30), antes que ministros de 50 países se reunissem para se preparar para este evento fundamental.

Em agosto, os especialistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) da ONU alertaram para o risco de um aumento de 1,5°C da temperatura por volta de 2030, dez anos antes do estimado.

Diante dessa observação implacável da ciência, e confrontados com devastadoras inundações, tempestades, ondas de calor e incêndios em todos os continentes, a solução é inequívoca: temos de reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa, reformando de forma profunda os métodos de produção e consumo.

"É uma corrida contra o tempo", disse à AFP Patricia Espinosa, responsável pelo clima na ONU.

De acordo com a última avaliação da ONU, os atuais compromissos dos Estados levariam a um aquecimento "catastrófico" de 2,7°C, longe do objetivo estabelecido no Acordo de Paris de manter esse aquecimento bem abaixo de +2°C em relação à era pré-industrial - se possível, até +1,5°C.

Nesse contexto, os objetivos da COP26 são ambiciosos: manter o objetivo de 1,5°C "dentro do alcance", visando a atingir a neutralidade de carbono em 2050, mobilizar financiamento e acelerar a adaptação aos impactos.

Uma ambição que o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, resumiu em quatro palavras: "carvão, carros, dinheiro e árvores", em alusão à transição para energias limpas e veículos elétricos, à ajuda prometida aos países em desenvolvimento e à paralisação crucial do desmatamento.

- Confiança -"O fracasso ainda é uma possibilidade, mas não podemos, não devemos, aceitá-lo", insistiu Guterres.

Entre as questões explosivas, está a promessa ainda não cumprida dos países desenvolvidos de aumentar sua assistência aos países pobres a US$ 100 bilhões por ano para se adaptar aos impactos das mudanças climáticas e reduzir suas emissões de gases de efeito estufa.

Outro ponto igualmente delicado é a solidariedade em geral entre o Norte, responsável pelo aquecimento global, e o Sul, na linha de frente dos impactos.

"Imagino que haverá muita raiva e decepção. Haverá uma enorme falta de confiança", comenta Tasneem Essop, patrono da Climate Action Network, que reúne mais de 1.500 ONGs.

Além disso, com a covid-19, "esta COP ocorre em um momento em que o fardo e o sofrimento são sentidos intensamente pelos países em desenvolvimento, após a relutância dos países ricos em se solidarizar com os mais pobres para fornecer vacinas", disse à AFP.

O medo de um acesso desigual a Glasgow ligado ao vírus aumenta ainda mais as tensões, apesar de o governo britânico ter oferecido vacinas aos participantes que desejarem ser imunizados e de seu financiamento de hotéis para aqueles sujeitos à quarentena.

"Ainda estamos preocupados com a possibilidade de podermos enviar nossos delegados à COP26, para negociar questões fundamentais relacionadas às mudanças climáticas, que terão um impacto tão profundo em nossos povos", lamentou no Twitter o presidente do Grupo dos Países Menos Desenvolvidos, Sonam P. Wangi.

- E a China? -O presidente britânico da COP26, Alok Sharma, reconheceu na quinta-feira (30) as preocupações de alguns países, especialmente as pequenas ilhas do Pacífico, mas disse que está trabalhando para resolver os problemas.

O número de inscrições para a COP está "muito bom", e "mais de 100 líderes confirmaram sua presença pessoalmente" para a cúpula de 1 e 2 de novembro, disse ele.

É, no entanto, com a participação de representantes da sociedade civil, um elo essencial nestas conferências sobre o clima, que as ONG se preocupam.

Poucas semanas antes do início das negociações (31 de outubro a 12 de novembro), os observadores destacam alguns sinais positivos. Entre eles, está o anúncio dos Estados Unidos de dobrar sua ajuda climática aos países pobres para US$ 11,4 bilhões por ano, assim como o da China, de parar de construir usinas termelétricas a carvão no exterior.

A verdadeira questão é "o que a China fará" em relação a seus compromissos domésticos, observa Alden Meyer, analista do think tank E3G.

Há um ano, o presidente Xi Jinping anunciou que pretende atingir a neutralidade de carbono até 2060 e atingir o pico de emissões "por volta de 2030". O país responsável por mais de um quarto das emissões globais não se submeteu, porém, aos compromissos revisados da ONU, conforme previsto no Acordo de Paris.

Mais de 50 países também não responderam a esta convocação, incluindo a Índia.

A caminho de Glasgow, a cúpula do G20 no final de outubro já nos permitirá medir a temperatura.

"O cenário otimista seria o G20 dar um impulso a Glasgow", disse Alden Meyer. "O menos otimista seria um beco sem saída e uma chegada à cúpula de Glasgow sem uma união real" desses países responsáveis por 80% das emissões, teme.

abd/so/mr/tt