Rússia corta vínculos com Otan após acusação de espionagem
Moscou, 18 Out 2021 (AFP) - A Rússia anunciou nesta segunda-feira (18) a suspensão de sua missão na Otan e a da Aliança Atlântica em Moscou, após a retirada, em 6 de outubro, do credenciamento de oito representantes russos na organização, acusados de espionagem.
Essa decisão ilustra ainda mais as fortes tensões entre Rússia e os países ocidentais há vários anos, entre sanções, expulsões trocadas de diplomatas, acusações de interferência eleitoral, espionagem e ciberataques atribuídos a Moscou.
A Rússia, por sua vez, repreende a Aliança Atlântica pela sua ambição de se estender até suas fronteiras, integrando Ucrânia e Geórgia, duas ex-repúblicas soviéticas que ainda considera parte de sua esfera de influência.
"Após certas medidas tomadas pela Otan, as condições básicas para um trabalho comum não existem mais", disse o ministro russo das Relações Exteriores, Serguéi Lavrov, destacando que as medidas entrarão em vigor em 1º de novembro.
Concretamente, a Rússia suspenderá indefinidamente sua missão em Bruxelas no berço da aliança militar ocidental, assim como a missão da Otan na embaixada da Bélgica em Moscou. Esta última tem como objetivo garantir a relação entre a aliança em Bruxelas e o ministério da Defesa russo.
Lavrov também anunciou "acabar com a atividade do escritório de informação da Otan", cuja missão, conforme definida pela aliança, é "melhorar o conhecimento e a compreensão mútuos".
Desde 2014, com a anexação da península da Crimeia por parte da Rússia, "a Otan já reduziu consideravelmente os contatos com a nossa missão. No que diz respeito à parte militar, não houve nenhum contato desde então", justificou o chefe da diplomacia russa. "A atitude da Aliança com o nosso país se tornou cada vez mais agressiva", denunciou a Rússia.
A Otan lamentou a decisão de Moscou. "Reforçamos nossa dissuasão e nossa defesa em resposta aos atos agressivos da Rússia, mas seguimos abertos ao diálogo", indicou uma porta-voz da aliança. "A decisão russa é mais do que infeliz", criticou o ministro das Relações Exteriores alemão, Heiko Maas, considerando que a mesma irá "prolongar a relação gelada" entre as autoridades russas e a Otan.
- 'Atividades maldosas' -Em caso de urgência, a Aliança poderá, no futuro, entrar em contato com o embaixador russo na Bélgica, acrescentou Lavrov.
Essas medidas ocorrem após uma nova série de acusações de espionagem.
No início de outubro, a Otan anunciou que estava retirando o credenciamento de oito membros da missão russa em Bruxelas, acusados de serem "agentes da inteligência russa não declarados".
O secretário-geral da Aliança, Jens Stoltenberg, acusou na ocasião Moscou de aumentar suas "atividades maldosas" na Europa.
A Rússia fez uma advertência ao considerar que a aliança político-militar, fundada em 1949 pelos rivais da União Soviética, já demonstrou sua rejeição em normalizar suas relações.
Em março de 2018, a aliança militar já havia decidido retirar as credenciais de sete membros da missão russa e expulsá-los da Bélgica, após o envenenamento de Serguei Skripal, um ex-agente russo, e de sua filha no Reino Unido.
Posteriormente, o número de credenciamentos para a missão russa em Bruxelas foi reduzido de 30 para 20. Em 7 de outubro de 2021, ainda mais, até restarem 10.
Apesar das fortes tensões, desde 2014 o alto comando militar russo se reuniu várias vezes em terceiros países com líderes militares da Otan e do Pentágono.
Em fevereiro de 2020, o chefe do Estado Maior russo, Valeri Guerasimov, reuniu-se no Azerbaijão com o comandante supremo da Otan para a Europa, o general americano Tod Wolters.
Em setembro de 2021, Guerasimov teve um encontro em Helsinque com seu par americano, Mark Milley, após uma reunião em dezembro de 2019.
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