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Irã denuncia 'ciberataque' contra sistema de distribuição de combustível

26/10/2021 14h09

Teerã, 26 Out 2021 (AFP) - O Irã foi alvo, nesta terça-feira (26), de um "ciberataque" sem precedentes por seu alcance, que paralisou a distribuição de gasolina no país, sem que, até o momento, os responsáveis tenham sido identificados.

Em uma nação onde o petróleo é abundante e os combustíveis são comercializados a preços irrisórios, os motoristas foram pegos de surpresa ao ver os postos fechando progressivamente, enquanto longas filas de espera iam se formando.

O Conselho Supremo de Segurança Nacional, a máxima instância de segurança da República Islâmica, afirmou que o problema foi causado por "um ciberataque contra o sistema de distribuição de gasolina", informou a emissora de televisão estatal, que já havia anunciado pouco antes "perturbações no sistema de computadores".

"Estão investigando os detalhes do ataque e sua origem", acrescentou a emissora, sem oferecer mais detalhes.

O incidente é de grande envergadura, pois bloqueou o sistema de computadores que permite aos iranianos comprar gasolina, graças a um cartão digital distribuído pelas autoridades.

O Irã dispõe da terceira maior reserva de petróleo do mundo e ocupava, em 2020, o quinto lugar como produtor dentro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

"Não quero falar, estou muito irritado", disse à AFP uma motorista em seu carro em Teerã, enquanto esperava que a distribuição de combustível fosse retomada rapidamente. Nas redes sociais, outros motoristas também se queixavam da situação.

- 'Que desastre' -"Que desastre. Justo quando os sistemas foram hackeados, meu carro sofreu uma avaria no meio da estrada", tuitou Sabour, uma jovem internauta da cidade de Yazd, no leste do país.

A porta-voz da sociedade nacional do Irã para a distribuição de produtos derivados do petróleo, Fatemeh Kahi, declarou que uma reunião urgente foi convocada para solucionar o problema.

Em Teerã, técnicos do Ministério do Petróleo desativaram o sistema digitalizado em vários postos de gasolina para poder distribuir combustível manualmente, disse a mesma fonte.

Agora, resta saber quem está por trás do "ciberataque".

A agência de notícias conservadora Fars relacionou o colapso do sistema com a proximidade do segundo aniversário dos protestos de novembro de 2019, provocados por um aumento nos preços da gasolina.

"A campanha dos meios contrarrevolucionários, na medida em que se aproxima [o aniversário] dos fatos ocorridos em novembro de 2019, reforça a possibilidade de um ciberataque", afirmou a Fars.

Naqueles protestos, postos policiais foram atacados, houve saques em lojas, incêndios em bancos e postos de gasolina, e as autoridades impuseram o bloqueio da internet por uma semana.

- 'Sem aumento de preços' -Na época dos protestos de 2019, as autoridades iranianas informaram que 230 pessoas morreram. Contudo, um grupo de especialistas que trabalham para o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (Acnudh) contabilizou mais de 400 mortes.

Para tranquilizar a população, o ministro do Interior, Ahmad Vahidi, declarou nesta terça-feira (26), em entrevista televisionada, que o governo "não planeja aumentar o preço da gasolina e as pessoas não devem se preocupar".

Teerã também cogita a possibilidade de Estados Unidos ou Israel, seus principais inimigos, estarem envolvidos no ataque.

Em setembro de 2010, o programa nuclear iraniano foi alvo do vírus Stuxnet, o que desencadeou uma série de falhas em seu parque de centrífugas para enriquecer urânio.

Desde esse episódio envolvendo o vírus Stuxnet, o Irã, por um lado, e os Estados Unidos e Israel, por outro, se acusam mutuamente de ciberataques.

Em maio de 2020, o jornal Washington Post informou que um ciberataque israelense foi cometido contra um dos dois portos de Bandar Abbas, cidade iraniana no Estreito de Ormuz, em represália, segundo a publicação, de um ataque contra instalações hidráulicas civis em Israel.

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