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Novo Parlamento alemão realiza primeira sessão

26/10/2021 08h38

Berlim, 26 Out 2021 (AFP) - Com mais jovens, mais mulheres e mais parlamentares de origem estrangeira, o novo Parlamento alemão realiza sua primeira sessão nesta terça-feira (26) com um ar renovado de diversidade, mas ainda longe de ser um reflexo da sociedade.

Um mês após as eleições legislativas de 26 de setembro, os 736 deputados do Bundestag assumirão seus assentos na assembleia que deverá eleger oficialmente o novo chanceler, provavelmente o social-democrata Olaf Scholz, se seu partido conseguir chegar a uma coalizão com ambientalistas e liberais.

À espera de um sucessor, a chanceler Angela Merkel ocupará hoje seu lugar na tribuna de honra do Parlamento. Seu governo administra os assuntos do dia-a-dia e ela, pela primeira vez em 31 anos, não se candidatou a um assento.

No feudo eleitoral de Merkel, no Mar Báltico, a candidata social-democrata de 27 anos Anna Kassautzki triunfou, destituindo os conservadores da CDU dessa cadeira pela primeira vez.

Esse resultado foi interpretado como o símbolo da derrocada do partido de Angela Merkel, superado pelos social-democratas do SPD.

Também simboliza o rejuvenescimento de seus grandes rivais, com metade de seus 206 deputados eleitos pela primeira vez e com idade média de 45 anos.

Entre os 118 deputados dos Verdes, terceiro grupo atrás dos social-democratas e conservadores, os dois deputados mais jovens têm 23 anos.

- Contra o "rótulo" de estrangeira -Outra sensação na Alemanha é a chegada ao Bundestag de Awet Tesfaiesus, a primeira mulher negra a fazê-lo.

Nascida na Eritreia há 47 anos, esta advogada, deputada pelos Verdes, veio para a Alemanha aos 10 anos e dedicou sua carreira à defesa dos direitos dos migrantes e refugiados.

"Precisamos de diversidade neste país", disse em entrevista à AFP. "Precisamos que as pessoas vítimas de racismo sejam melhor representadas", acrescentou.

Com Karamba Diaby, de origem senegalesa e primeiro negro eleito para o Bundestag, e Armand Zorn, chegado dos Camarões aos 12 anos, serão os únicos deputados negros numa assembleia dominada por homens e brancos.

No entanto, o número de deputados de origem estrangeira está aumentando. Os parlamentares nascidos no exterior ou com um dos pais estrangeiros representam 11,3% do Bundestag (83), contra 8,2% (58) na legislatura anterior.

"Estamos testemunhando um despertar na política", disse Deniz Nergiz, diretora do Conselho Federal de Imigração e Integração (BZI), que promove a participação política de pessoas de origem estrangeira.

"Também temos, pela primeira vez, um refugiado eleito na Alemanha Oriental", onde o número de migrantes é muito menor, explicou a especialista à AFP.

Entre os novos membros do Bundestag está Lamya Kaddor, que dá cursos de religião islâmica em escolas na região do Ruhr, um assunto muito debatido na Alemanha nos últimos anos.

Durante os quatro anos de seu mandato, Awet Tesfaiesus quer lutar contra o "rótulo" de estrangeira que lhe atribuem apesar de seu passaporte alemão.

"O racismo é sentido em todos os lugares, de forma latente", disse. "Quando procuramos um apartamento, quando o carteiro entra no meu escritório de advocacia e fala com a minha secretária porque automaticamente pensa que ela é minha superiora".

- Mulheres subrepresentadas -Apesar dessa renovação, o Bundestag ainda está longe de ser um espelho fiel da sociedade alemã.

"Ainda estamos muito aquém dos 26% (de estrangeiros) da sociedade como um todo"", destacou Nergiz.

O mesmo ocorre na questão de gênero, ainda muito distante da paridade, apesar de ser um país que nos últimos 16 anos foi governado por uma mulher.

Nesta legislatura, as mulheres ocuparão 24% dos assentos no Bundestag, contra 20% na anterior.

Pela terceira vez, a Câmara será presidida por uma mulher, a socialista Bärbel Bas, de 53 anos, que sucederá a Wolfgang Schäuble, membro do Bundestag desde 1972.

Existem disparidades significativas entre os partidos nesta questão. Os Verdes, por exemplo, têm uma maioria de mulheres (59%), incluindo duas transgêneros, Tessa Ganserer e Nyke Slawik.

Em contraste, no partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), elas representam apenas 13% de sua bancada.

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