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Tensão e temores de naufrágio a três dias do início da reunião mundial sobre o clima COP26

28/10/2021 06h02

Paris, 28 Out 2021 (AFP) - "Alerta vermelho para a humanidade". Diante dos temores de um naufrágio na reunião de cúpula do clima COP26, que começa no próximo domingo (31) em Glasgow, os apelos são cada vez mais intensos para que os governantes mundiais adotem medidas mais fortes e mais rápidas para frear o aquecimento do planeta, que já enfrenta catástrofes em série.

Sibéria e Califórnia arrasadas pelas chamas, inundações devastadoras na Alemanha e na Bélgica, uma onda de calor impressionante no Canadá... A temperatura na Terra aumentou cerca de +1,1 °C desde a era pré-industrial e os seres humanos vivem as consequências dramáticas da mudança climática que provocaram nas últimas décadas.

E isto é apenas o início, alertam os cientistas, que destacam que cada fração de grau adicional provocará uma nova série de desastres.

Como resume um vídeo da ONU com a imagem de um dinossauro que entra na área da Assembleia Geral: "Pelo menos nós tínhamos um asteroide, qual é a desculpa de você? Não escolham a extinção, salvem sua espécie antes que seja tarde demais".

Diante do futuro apocalíptico previsto pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas, a solução é clara: reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 45% até 2030 com o objetivo de limitar o aquecimento a +1,5 °C, a meta mais ambiciosa do Acordo de Paris, e prosseguir neste caminho até alcançar a neutralidade de carbono até 2050.

Mas segundo um relatório recente da ONU, mesmo com os novos compromissos dos Estados para 2030, o planeta se encaminha para um aquecimento catastrófico de +2,7 °C.

- "Loucura" -"A loucura é fazer sempre a mesma coisa e esperar um resultado diferente", ironizou Myles Allen, da universidade britânica de Oxford, parafraseando Einstein, ao destacar que no ritmo atual os resultados anunciados para 2030 seriam alcançados apenas "na década de 2080".

Os governos "não estão à altura", afirmou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, ao apontar para o G20, que representa 75% das emissões mundiais de poluentes e celebra uma reunião no fim de semana em Roma.

"É absolutamente central que todos os países do G20 apresentem antes de Glasgow ou em Glasgow contribuições compatíveis com +1,5 °C", destacou Guterres, que se declarou "profundamente preocupado" com a proximidade da COP26.

O mesmo é repetido pelos organizadores britânicos da reunião. "Estou preocupado porque isto pode acabar mal", declarou na segunda-feira o primeiro-ministro Boris Johnson, mas sem perder as esperanças.

A China, maior poluente mundial, não anunciou compromissos formais até o momento.

Porém, mesmo os países que já anunciaram suas metas podem e devem reforçar os compromissos para dar um impulso político à conferência de duas semanas em Glasgow, Escócia, enfatizam os especialistas.

Em Glasgow, onde devem se reunir na segunda-feira e terça-feira mais de 120 governantes, estarão presentes os presidentes americano Joe Biden e francês Emmanuel Macron, além dos primeiros-ministros indiano Narendra Modi, australiano Scott Morrisson e canadense Justin Trudeau.

Mas não o presidente russo Vladimir Putin nem a rainha Elizabeth II, que renunciou ao encontro por recomendação médica após uma hospitalização.

O presidente chinês Xi Jinping, que não saiu de seu país desde o início da epidemia de covid-19, ainda é esperado na COP26 pelo presidente do encontro, o britânico Alok Sharma.

Para pressionar os líderes, o grupo Extinction Rebellion e outras organizações devem executar ações durante a COP, na Escócia e em outros países.

A jovem militante sueca Greta Thunberg convocou uma manifestação em Glasgow em 5 de novembro, uma marcha pela "justiça climática".

- "Questão de sobrevivência" -A questão da justiça é central na conferência mundial sobre o clima, adiada por um ano devido à pandemia, e na qual as organizações da sociedade civil denunciam as desigualdades de acesso vinculadas à covid-19.

Entre os temas explosivos vinculados à noção de justiça está a solidariedade entre os países do hemisfério Norte, responsáveis pelo aquecimento global, e os países do Sul, na linha de frente dos impactos da mudança climática, e também do coronavírus.

E mais especificamente a promessas ainda não cumprida pelos países desenvolvidos de elevar em 2020 a 100 bilhões de dólares anuais a ajuda às nações pobres para que se adaptem às consequências e reduzam as emissões de gases do efeito estufa.

O relatório apresentado esta semana pela presidência da COP26, que afirma que a meta US$ 100 bilhões pode ser alcançada em 2023 e depois superada a cada ano, não acalmou os países mais vulneráveis.

"É um golpe terrível para o mundo em desenvolvimento", denunciou Walton Webson, que preside a Aliança de Pequenos Estados Insulares (AOSIS). Para estas ilhas, ameaçadas pelo aumento do nível dos oceanos, ajuda financeira é uma "questão de sobrevivência", insiste Webson.

Outros temas importantes nas duas semanas de discussões serão o abandono das energias fósseis, começando pelo carvão, a necessária aceleração da adaptação aos impactos do aquecimento e as negociações para finalmente concretizar a aplicação do Acordo de Paris, em particular o funcionamento dos mercados de carbono.

"A COP26 é a oportunidade perfeita para que os países mostrem que aprenderam com as recentes catástrofes climáticas", resume Anaid Velasco, membro da Climate Action Network, que reúne centenas de ONGs.

abd/so/uh/mar/zm/fp