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Papa chega ao Chipre para visita focada na migração

02/12/2021 21h22

Nicósia, 3 dez 2021 (AFP) - O papa Francisco fez um apelo à "unidade" nesta quinta-feira (2) no Chipre, em plena crise migratória na Europa e em uma ilha dividida em duas, na primeira escala de uma viagem de cinco dias que também incluirá a Grécia.

Esta é a segunda visita de um papa ao país, uma ilha habitada principalmente por cristãos ortodoxos, depois da feita por Bento XVI em 2010.

O avião do pontífice argentino, de 84 anos, pousou às 14h52 no horário local (09h52, no horário de Brasília) no aeroporto de Larnaca, no sul do Chipre, em meio a cânticos de "Te amamos, papa Francisco", entoado por um grupo de crianças.

Em sua chegada ao aeroporto, as autoridades cipriotas o receberam com uma banda de música e um tapete vermelho, estendido sob um sol resplandescente.

O pontífice dirigiu-se em seguida à catedral maronita de Nossa Senhora da Graça, em Nicósia, onde se encontrou com o patriarca desta igreja católica oriental - que representa menos de 1% da população cipriota, mas está presente na Síria e no Líbano -, o cardeal Béchara Rai.

"Para construir um futuro digno para o ser humano, é preciso trabalhar juntos, superar as divisões, derrubar os muros e cultivar o sonho da unidade", disse o pontífice na catedral.

Francisco, que no sábado irá para a Grécia, levará com ele para a Itália 50 migrantes, informou o presidente cipriota, Nicos Anastasiades, em um anúncio não confirmado até o momento pelo Vaticano.

"Sua iniciativa simbólica é, antes de tudo, um sinal forte da necessidade da revisão da política migratória da UE", disse Anastasiades.

Em 2016, o papa levou para Roma três famílias sírias, após visitar a ilha grega de Lesbos.

- "Caminhar juntos" -"Precisamos acolher e nos integrar, caminhar juntos", acrescentou, referindo-se à crise de migrantes no Mediterrâneo, "um mar que foi berço de tantas civilizações, onde ainda hoje desembarcam pessoas, povos e culturas de todas as partes do mundo".

A poucos metros da catedral, em um café maronita, dezenas de pessoas acompanhavam pela TV o discurso do papa.

"Vim para escutar seu coração, um coração que está com o respeito, a dignidade e os direitos humanos. Que busca abordar o problema dos migrantes", disse à AFP Avril Fortuin, de 57 anos, uma mulher cristã residente em Limasol (sul do Chipre).

Quanto ao Líbano, país vizinho ao Chipre, o papa disse estar "muito preocupado" com a crise social, econômica e humanitária. "Sinto a dor do povo cansado e afetado pela violência e pelo sofrimento".

Autoridades da Igreja disseram que mais de mil libaneses viajaram a Chipre para a visita do papa.

- "Terrível ferida" -Francisco também se reuniu com o presidente Anastasiades para abordar o conflito que divide a ilha.

O pontífice pediu diálogo para curar esta "terrível ferida", o conflito que em 1974 separou o Chipre entre a República do Chipre, membro da União Europeia, e a autoproclamada República Turca do Norte do Chipre (RTNC), reconhecida apenas pela Turquia.

"O caminho da paz, que sana os conflitos e gera a beleza da fraternidade, está marcado com uma palavra: diálogo", disse o papa.

"Com sua ajuda, podem acontecer coisas, é a nossa esperança", afirmou Moncia Despoti, uma maronita de 55 anos que aguardava a chegada do sumo pontífice.

Ersin Tatar, presidente da RTNC, acusou nesta quinta-feira as autoridades da República do Chipre de usar a visita do papa para "objetivos políticos contra a Turquia e a RTNC".

Na sexta-feira, o papa celebrará uma missa em um estádio de Nicósia, diante de 7.000 fiéis e uma oração ecumênica com os migrantes, perto da "linha verde", a zona desmilitarizada administrada pela ONU que divide a cidade e a ilha em duas partes, um gesto considerado particularmente simbólico.

A missa será o único evento com participação da comunidade católica cipriota, composta por cerca de 25.000 pessoas (entre 5.000 e 7.000 maronitas), numa população de um milhão, a maioria ortodoxa.

Mais de 500 policiais vão cuidar da segurança do papa Francisco.

"Onze anos depois, o novo papa está aqui. Para nós, católicos do Chipre, é um grande acontecimento", explicou à AFP Josephina Skoullou, uma cipriota maronita.

O diálogo com os ortodoxos, que se separaram da Igreja Católica em 1054 durante o grande cisma entre o Oriente e o Ocidente, é uma das prioridades do pontificado de Francisco.

Será também a ocasião para "aproximar a humanidade ferida" e tantos migrantes que buscam esperança", acrescentou o Papa.

As autoridades do Chipre afirmam receber o maior número de pedidos de asilo da União Europeia em comparação com a sua população, uns 10.000 nos primeiros dez meses do ano.

Nesta quinta, 36 ONGs de defesa dos direitos humanos pediram ao papa que intervenha para cessar as expulsões ilegais de migrantes na fronteira entre a Grécia e a Turquia.

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