Promotoria alemã pede prisão perpétua para russo acusado de assassinato supostamente a mando de Moscou
Berlim, 7 dez 2021 (AFP) - O Ministério Público da Alemanha pediu nesta terça-feira (7) a prisão perpétua para um russo acusado do assassinato de um georgiano da minoria chechena em um parque de Berlim, e acusou diretamente a Rússia de envolvimento.
O suspeito, chamado Vadim Krasikov, segundo o MP, é acusado de disparar três vezes contra o georgiano Tornike Kavtarashvili, de 40 anos. O assassinato ocorreu em plena luz do dia no parque Tiergarten da capital alemã.
O caso teve repercussões nas tensas relações entre Alemanha e Rússia, e Moscou nega qualquer envolvimento no caso.
"O acusado foi comandante de uma unidade especial do serviço secreto russo, o FSB", declarou o promotor na acusação.
"Ele matou um opositor político por represália", acrescentou, ao assinalar que foi "um atentado claramente planejado durante muito tempo" e realizado "a sangre frio".
O acusado nega ser a pessoa cuja identidade lhe é atribuída pelo Ministério Público e afirma "não conhecer ninguém" com o nome de Krasikov.
Através de seu advogado Robert Unger, ele diz que se chama Vadim Sokolov, que tem 50 anos e é "russo, solteiro e engenheiro da construção".
- 'Turista' -O assassinato ocorreu em 23 de agosto de 2019, por volta do meio-dia. Segundo a acusação, o assassino se deslocava em uma bicicleta quando se aproximou da vítima e disparou a primeira vez à distância, com um silenciador, antes de executá-lo com dois tiros à queima-roupa na cabeça.
Antes de supostamente cometer o crime, o acusado viajou como turista a Paris, na França, e a Varsóvia, na Polônia, para depois seguir para Berlim.
Durante o julgamento, várias evidências reforçaram a convicção do Ministério Público sobre a identidade do acusado, como uma foto de Krasikov com duas tatuagens idênticas às do suspeito e o testemunho de seu cunhado.
O problema foi que este último, um ucraniano, compareceu ao tribunal e não o reconheceu, e depois deu uma entrevista à revista Der Spiegel dizendo que era efetivamente Krasikov.
O tribunal voltou a intimá-lo algumas semanas depois e, desta vez, identificou o suspeito formalmente. Apesar de o cunhado ter afirmado que temia represálias, a credibilidade de seu depoimento ficou prejudicada.
O georgiano, ex-líder separatista da Chechênia, lutou contra as forças russas entre 2000 e 2004.
Desde 2016, vivia com sua família na Alemanha, onde pediu asilo, após sobreviver a duas tentativas de assassinato na Geórgia.
- 'Sanguinário' -O presidente da Rússia, Vladimir Putin, chegou a classificar Kavtarashvili de "combatente cruel e sanguinário".
No fim de 2019, a Alemanha declarou dois diplomatas russos personae non gratae em protesto contra a falta de cooperação na investigação do assassinato em Tiergarten, o que foi respondido por Moscou com a expulsão de dois diplomatas alemães.
O assassinato em Berlim, o caso Navalny, assim como o envenenamento do ex-espião russo Sergei Skripal e de sua filha no Reino Unido, em 2018, despertaram suspeitas sobre o papel dos serviços de segurança da Rússia em operações violentas.
Contudo, até agora não foi possível comprovar o envolvimento de Moscou nesses casos.
O assassinato de Kavtarashvili se soma a uma série de outros episódios de tensão diplomática entre Berlim e Moscou, desde o ciberataque ao Bundestag - o Parlamento alemão - em 2015, atribuído à Rússia, a discrepâncias geopolíticas, como a anexação da Crimeia por Moscou e as situações de Síria e Líbia.
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