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Polícia israelense destrói casa de família palestina em Jerusalém Oriental

19/01/2022 19h43

Jerusalém, 19 Jan 2022 (AFP) - A polícia israelense destruiu nesta quarta-feira (19) a casa de uma família palestina no bairro Sheikh Jarrah, que se tornou um símbolo da luta contra a colonização israelense em Jerusalém Oriental e palco de fortes tensões há meses.

Policiais israelenses foram à casa dessa família ameaçada de expulsão desde 2017 e objeto de uma campanha de apoio nos Territórios Palestinos e no exterior ao amanhecer, e retiraram as pessoas que ali estavam, segundo um vídeo publicado pela polícia, que fez 18 detenções durante a operação.

Um fotógrafo da AFP presenciou a demolição da casa neste bairro palestino de Jerusalém Oriental, a parte da Cidade Santa ocupada desde 1967 e posteriormente anexada por Israel. A construção foi destruída por uma escavadeira, disseram testemunhas.

"Durante a noite, a polícia israelense executou a ordem de despejo de prédios ilegais em um terreno destinado a uma escola para crianças com necessidades especiais em Jerusalém Oriental", informou a polícia israelense em comunicado.

A polícia afirmou que a família Salhiya se recusou repetidamente a "entregar o terreno".

Na segunda-feira, logo após a chegada da polícia para realizar o despejo, membros da família Salhiya se barricaram com um barril de gasolina no telhado da casa, ameaçando explodir tudo caso fossem obrigados a deixar o local. Foram realizadas negociações para evitar a violência.

Em maio, manifestações de apoio a famílias palestinas ameaçadas de despejo em Sheikh Jarrah degeneraram em confrontos com colonos e a polícia israelense, antes de uma onda de violência sangrenta entre Israel e o movimento palestino Hamas em Gaza, o enclave palestino sob bloqueio de Israel.

- "Duas vezes refugiados" -Segundo o advogado Walid Abu Tayeh, cerca de 20 pessoas foram presas, entre elas o pai da família, Mahmud Salhiya, e outros membros da família - que ele defende -, além de seis israelenses que vieram apoiá-los e foram liberados em seguida.

"A decisão de despejo diz respeito apenas a Mahmud Salhiya e sua esposa", Meital, que é judia israelense, acrescentou o advogado, especificando que a Suprema Corte examinará o caso em 23 de janeiro.

Cerca de 20 pessoas viviam na casa de 120 m2: Mahmud Salhiya, sua esposa e filhos, além de sua mãe e sua irmã e seus filhos, segundo o advogado.

Após a demolição, vários membros da família se mudaram para casas vizinhas e outros ficaram próximos às ruínas.

Omar Shakir, diretor da Human Rights Watch para Israel e os territórios palestinos, descreveu o despejo como "cruel", afirmando que a família Salhiya já havia sido expulsa de sua casa em Jerusalém Ocidental em 1948, quando o Estado de Israel foi criado. Agora eles são "duas vezes refugiados", lamentou.

Em um comunicado conjunto, França, Alemanha, Itália e Espanha denunciaram a demolição da casa e expressaram sua "profunda preocupação" com a decisão israelense de "avançar nos planos de construção de centenas de novas residências em Jerusalém oriental, inclusive entre Givat HaMatos e Har Homá".

Segundo a prefeitura israelense, o terreno será destinado à construção de uma escola. Grupos que defendem a família consideram que ela poderia ser construída em outro lugar.

O chefe da diplomacia palestina, Riad Al-Maki, afirmou perante o Conselho de Segurança da ONU em Nova York que Israel "segue lançando uma força impiedosa contra o povo palestino" e questionou: "Vocês aceitarão este apartheid do século XXI?"

O embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, respondeu que se tratava de "uma questão municipal", relacionada ao "roubo de terras públicas para uso privado".

Segundo as autoridades municipais de Jerusalém, a família Salhiya usava ilegalmente um terreno que nunca pertenceu a ela e que o município comprou "de seus proprietários árabes".

- Assunto espinhoso -Centenas de palestinos enfrentam ordens de despejo de suas casas em Sheikh Jarrah e outros bairros de Jerusalém Oriental. Mais de 300.000 palestinos e 210.000 israelenses vivem agora neste setor da cidade santa, estes últimos em colônias, consideradas ilegais pelo direito internacional.

Israel considera toda a cidade de Jerusalém como sua capital, enquanto os palestinos querem fazer de Jerusalém Oriental a capital de um futuro Estado.

Segundo a lei israelense, se os judeus puderem provar que sua família vivia em Jerusalém Oriental antes da guerra de 1948 e da criação do Estado de Israel, podem pedir seus "direitos de propriedade".

Mas não existe tal lei para palestinos que perderam suas propriedades. Os palestinos dizem que suas casas foram compradas legalmente das autoridades jordanianas que controlaram Jerusalém Oriental entre 1948 e 1967.

A situação de Jerusalém é uma das questões mais delicadas do conflito israelense-palestino, que já dura mais de meio século. As negociações de paz estão em um impasse desde 2014.

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