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Ofuscada por duelo Lula-Bolsonaro, terceira via pena para encontrar espaço

20/01/2022 11h28

Rio de Janeiro, 20 Jan 2022 (AFP) - Incapazes de seduzir as multidões e de se unirem, os candidatos da terceira via sofrem para se destacar como uma alternativa que evite o duelo de titãs entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) nas eleições presidenciais de outubro.

Segundo a última pesquisa do Instituto Datafolha, publicada em meados de dezembro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ainda não anunciou oficialmente sua candidatura, concentra 48% das intenções de voto.

O presidente Jair Bolsonaro se mantém em segundo lugar (22%), embora sua popularidade esteja em seu ponto mais baixo.

Mas o que acontece com os outros candidatos?

Nem mesmo as intenções de voto somadas dos três aspirantes que o seguem bastam para se aproximar do mandatário: o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro (Podemos) tem 9%; Ciro Gomes (PDT), terceiro colocado nas presidenciais de 2018, 7%, e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), 4%.

"Até o momento, não temos um candidato com perfil de superar Lula ou Jair Bolsonaro", disse à AFP Paulo Baia, professor de ciência política e sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

- Eleitorado fiel -No entanto, os dois favoritos despertam forte rejeição em um ambiente muito polarizado.

"Há uma parte da sociedade claramente identificada nas pesquisas, que não quer nem Lula, nem Bolsonaro. Estão aguardando o surgimento de um candidato. O problema até agora é que esse candidato não surgiu, ou não se identificou de forma clara", explicou Leandro Gabiati, analista político e diretor da consultoria Dominium.

Segundo ele, os centristas têm uma desvantagem importante: "A chave da eleição presidencial é a simpatia que um candidato consegue despertar", e aspirantes como Sergio Moro não têm o mesmo "carisma" de Lula ou Bolsonaro.

Embora sua imagem tenha se deteriorado por escândalos de corrupção, Lula traz "uma lembrança favorável" por seus dois mandatos (2003-10) marcados por um auge econômico e ambiciosos programas sociais, explicou Baia.

Bolsonaro consegue se manter competitivo, apesar de um contexto econômico muito menos florescente, com inflação galopante e alto desemprego, além das críticas à sua gestão da pandemia, que deixou mais de 620.000 mortos no Brasil.

"O que Bolsonaro percebeu é que se não fidelizar seu voto com sua pauta tradicional, atacando as eleições, afirmando que tem fraude eleitoral, sendo contra as vacinas, contra o passaporte de vacinas..., perde seu eleitor fidelizado. Bolsonaro terá entre 15% a 20% dos votos validos, por todas as pesquisas que temos até hoje", afirma o professor da UFRJ.

- Um terço de indecisos -Por enquanto, o mais bem posicionado para encarnar uma possível terceira via é Sergio Moro.

Novato na política, o ex-magistrado de 49 anos é inimigo declarado de Lula, a quem condenou à prisão por corrupção em 2017.

O ex-presidente passou 18 meses atrás das grades antes de ser libertado por decisão do Supremo Tribunal Federal, que anulou suas sentenças, devolvendo-lhe a elegibilidade.

A decisão judicial foi um duro golpe para Moro, a quem a máxima corte considerou "parcial" no julgamento do ex-presidente.

E o ex-juiz também não poderá jogar no campo de Bolsonaro: após ter sido ministro em seu governo, renunciou em abril de 2020 e desde então é considerado um traidor pelos bolsonaristas.

João Doria, enquanto isso, foi aliado de Bolsonaro durante a campanha presidencial de 2018, antes de se tornar um de seus opositores mais ferozes.

Este experiente empresário, que apresentou a versão brasileira de "O Aprendiz", um 'reality show' conduzido por Donald Trump nos Estados Unidos, enfrentou várias vezes o presidente no auge da pandemia, opondo-se à sua política anticonfinamento e sua retórica antivacinas. Mas, luta para superar 5% nas pesquisas.

Candidato enérgico que sonha em aglutinar os votos da esquerda, Ciro Gomes aparentemente não conseguirá arranhar os votos de Lula para repetir o bom desempenho das eleições passadas, quando terminou em terceiro lugar, com 12,5% da preferência do eleitorado.

Com os três longe da dianteira para passar ao segundo turno, parece óbvio o caminho de uma aliança em torno de um dos candidatos centristas.

Mas Gabiati considera este cenário improvável, pois "cada um tem um projeto de poder. Ele não descarta, no entanto, que algum deles acabe despotando quando a campanha eleitoral começar, em agosto.

"Para o cidadão médio, é um fato que [a eleição] ainda está muito longe da realidade. Há uma parte importante da sociedade que ainda não colocou no seu radar a escolha ou a decisão de em quem irá votar em outubro", e esta parcela somaria um terço do eleitorado, segundo as pesquisas mais recentes, destacou.

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