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Talibãs satisfeitos com reunião com diplomatas ocidentais em Oslo

24/01/2022 15h54

Oslo, 24 Jan 2022 (AFP) - Em busca de reconhecimento internacional e de fundos para seu país, os talibãs disseram nesta segunda-feira(24) em Oslo que sua primeira visita à Europa desde que assumiram o poder, focada principalmente na crise humanitária no Afeganistão, foi um "sucesso".

A delegação talibã, chefiada pelo seu ministro das Relações Exteriores, Amir Khan Muttaqi, está na Noruega desde sábado à noite para participar de três dias de reuniões com membros da sociedade civil afegã e diplomatas ocidentais.

"O fato de termos vindo para a Noruega... é um sucesso em si porque compartilhamos o cenário internacional", disse Muttaqi a jornalistas durante conversas com representantes dos Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha, Itália, União Europeia e Noruega.

"A partir dessas reuniões, temos certeza de que obteremos apoio nos setores humanitário, de saúde e educacional no Afeganistão", disse ele.

A portas fechadas no hotel Soria Moria, em uma colina perto de Oslo, as discussões se concentram na situação de urgência humanitária no Afeganistão, onde milhões de pessoas se veem ameaçadas pela fome, após a interrupção da ajuda internacional e com o país devastado por várias secas.

Os talibãs esperam que os ocidentais liberem ajuda e também ganhem alguma forma de reconhecimento.

A comunidade internacional condiciona o retorno da ajuda financeira estrangeira ao respeito dos direitos humanos por parte dos talibãs.

O governo talibã ainda não foi reconhecido internacionalmente.

Fundamentalistas islâmicos depostos do poder em 2001, retomaram as rédeas do país em agosto do ano passado.

"Com o espírito de resolver a crise humanitária (...) continuamos uma diplomacia lúcida com os talibãs, marcada por nosso interesse constante em um Afeganistão estável, respeitoso dos direitos e inclusivo", disse no Twitter o enviado especial americano Thomas West.

Criticadas por especialistas e por uma parte da diáspora afegã, a Noruega insistiu em que essas negociações "não são nem uma legitimação, nem um reconhecimento", mas que era necessário "falar com as autoridades que de fato governam o país".

Desde agosto, a ajuda internacional que financiava 80% do orçamento afegão foi suspensa, e os Estados Unidos congelaram US$ 9,5 bilhões em fundos do Banco Central Afegão.

O desemprego disparou, e funcionários públicos estão sem salário desde agosto. De acordo com a ONU, a fome hoje ameaça em torno de 23 milhões de afegãos, ou seja, 55% da população do país. Para aliviar este quadro dramático, a organização relata serem necessários US$ 4,4 bilhões em recursos este ano.

- "Mãos manchadas de sangue" - A comunidade internacional espera para ver como será este novo governo, depois das atrocidades cometidas durante seu primeiro regime, entre 1996 e 2001.

Apesar de suas promessas de serem mais tolerantes, as mulheres continuam amplamente excluídas da força de trabalho no setor público, e muitas escolas para meninas permanecem fechadas. Duas ativistas feministas desapareceram em Cabul esta semana.

Antes do encontro com os talibãs, os diplomatas ocidentais se reuniram com membros da sociedade civil afegã, principalmente ativistas feministas e jornalistas. Na véspera, estes dois grupos conversaram sobre direitos humanos com os talibãs.

Nesta segunda-feira, uma dessas ativistas, Mahbuba Seraj, disse que os talibãs "as reconheceram e as ouviram".

"Tenho esperança. Espero uma forma de compreensão recíproca", disse a repórteres.

"Compreensão e cooperação são as únicas soluções para todos os problemas do Afeganistão", tuitou no domingo o porta-voz talibã, Zabihullah Mujahid, referindo-se a uma "declaração conjunta".

Na delegação talibã de 15 membros, todos homens, está Anas Haqqani, um dos chefes da rede Haqqani, considerada um grupo terrorista pelos Estados Unidos.

Sua presença em Oslo foi especialmente criticada, pois seu clã é responsável por vários ataques mortais no Afeganistão.

Segundo a imprensa norueguesa, foi apresentada em Oslo uma denúncia contra Anas Haqqani por crimes de guerra.

"Isso dói. É como se Anders Behring Breivik (o neonazista norueguês que matou 77 pessoas na Noruega em 2011) fosse a um país", como delegado, disse o autor do processo, Zahir Athari, em entrevista à rádio e televisão NRK.

"É um país que está em guerra durante décadas", explicou a ministra norueguesa de Ajuda ao Desenvolvimento, Anne Beathe Tvinnereim, também na NRK.

"Se quiséssemos receber as pessoas que governam, as autoridades de governo de fato no Afeganistão, teríamos que considerar que algumas delas teriam as mãos manchadas de sangue", reconheceu.

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