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Boris Johnson aguarda publicação de relatório potencialmente demolidor sobre festas ilegais

26/01/2022 09h06

Londres, 26 Jan 2022 (AFP) - Boris Johnson e o Parlamento britânico se preparavam nesta quarta-feira para a iminente publicação de um relatório sobre as festas celebradas em Downing Street durante os confinamentos, cujas conclusões podem provocar uma moção de censura demolidora contra o polêmico primeiro-ministro.

"Suspeito que não teremos que esperar muito mais para o relatório de Sue Gray, com o qual poderemos ter uma visão mais completa do que aconteceu exatamente", afirmou à BBC a ministra das Relações Exteriores, Liz Truss.

No início de dezembro, em uma tentativa de superar um escândalo então incipiente sobre uma suposta festa de Natal organizada por seus colaboradores um ano antes - quando as normas anticovid proibiam tais celebrações -, o líder conservador se declarou "furioso" e ordenou uma investigação interna, com a promessa de "consequências" em caso de infração.

Mas desde então, em uma série de vazamentos a conta-gotas, a imprensa publicou informações sobre mais de 10 eventos supostamente ilegais, incluindo alguns sobre os quais Johnson teve que admitir que participou, apesar do esforço para evitar responsabilidades.

O "partygate", ou escândalo das festas, virou uma bola de neve que ameaça arrastar o primeiro-ministro em sua passagem, especialmente depois que a polícia de Londres anunciou na terça-feira, com muito atraso, que está investigando possíveis delitos.

Após o anúncio, o país teve uma tarde confusa, com várias declarações contraditórias.

Downing Street anunciou a suspensão de de boa parte da investigação interna, coordenada pela funcionária pública de alto escalão Sue Gray, para não interferir no inquérito policial.

Mais tarde afirmaram que o relatório poderia ser publicado apenas parcialmente e, em seguida, vazou que Johnson deveria recebê-lo ainda durante a noite na íntegra e reagir ao documento nesta quarta-feira durante a sessão semanal de perguntas na Câmara dos Comuns.

E, finalmente, foi anunciado que Gray ainda não entregou suas conclusões, mas que estas poderiam ser reveladas até o fim do dia, nos próximos dias ou na próxima semana, o que provoca uma espera tensa para um primeiro-ministro que tem sua permanência no cargo muito questionada.

- Moção de censura ou novo respiro? -"Não precisamos do relatório de Sue Gray para saber que Boris Johnson deve sair", escreveu Angela Rayner, número dois do Partido Trabalhista, principal força de oposição, em um artigo de opinião publicado nesta quarta-feira.

Rayner denunciou "uma cultura muito clara de total desprezo pelas normas e o decoro em Downing Street" e destacou que esta "vem da pessoa que está no comando".

Johnson, 57 anos, chegou de maneira triunfal ao poder em 2019 com a promessa de concretizar o Brexit, tema que provocou o desgaste de sua antecessora, Theresa May. Com o discurso, ele convenceu um grande número de redutos trabalhistas no norte da Inglaterra e conquistou a maioria conservadora mais importante desde os anos 1980.

Mas agora são justamente os jovens deputados de seu partido eleitos nas circunscrições que tradicionalmente votavam na esquerda que se rebelam com mais força contra seu líder, de quem desejam arrebatar o controle do partido e, portanto, do governo, com uma moção de censura interna.

Para isto, eles precisam enviar ao menos 54 cartas, 15% dos 360 deputados da maioria governamental, ao denominado Comitê 1922, responsável pela gestão da bancada parlamentar.

O número permanace em sigilo até a marca necessária seja alcançada.

E embora na semana passada a rebelião tenha sido esfriada pelo temor de perder o poder para os trabalhistas, que pela primeira vez em anos superam os conservadores por 10 pontos de vantagem nas pesquisas, as conclusões do relatório Gray podem reavivar a questão.

Mas tudo depende da se o relatório será publicado de maneira completa, sobre todas as supostas festas ilegais, ou se limita a fatos menores e deixa a determinação de possíveis delitos para a polícia.

Isto poderia dar a Johnson preciosos meses de respiro à espera dos resultados, durante os quais tentaria melhorar sua popularidade com o avanço da situação da saúde, a suspensão na quinta-feira das restrições e as medidas de estímulo econômico.

No momento, a investigação policial em curso pode servir para que ele evite as perguntas sobre o "partygate" durante a sessão de quarta-feira na Câmara dos Comuns.

acc/zm/fp