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Forças curdas perseguem jihadistas após ataque em prisão síria

27/01/2022 18h56

Hassake, Síria, 27 Jan 2022 (AFP) - As forças curdas continuavam procurando, nesta quinta-feira (27), por jihadistas em torno de uma grande prisão no nordeste da Síria, cujo controle foi retomado no dia anterior após um ataque do grupo Estado Islâmico (EI) que deixou mais de 230 mortos.

As Forças Democráticas Sírias (FDS), controlada pelos curdos, anunciaram na quarta-feira que retomaram totalmente o controle da prisão de Ghwayran, encerrando seis dias de combates no que foi o pior ataque dos extremistas islâmicos na Síria em três anos.

Hoje, porém, as operações de busca encontraram entre 60 e 90 jihadistas que ainda estavam entrincheirados em uma ala da prisão, de acordo com as FDS, que afirmam que cerca de 3.500 membros do EI se renderam.

Nesta quinta-feira, houve novos confrontos esporádicos dentro da prisão que coincidiram com as operações de rastreamento em curso das FDS, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), uma ONG sediada no Reino Unido e que conta com uma ampla rede de fontes na Síria.

Doze combatentes do EI morreram nestes combates, segundo o OSDH. Os corpos de outros cinco jihadistas foram encontrados, segundo a ONG.

Ao menos 173 jihadistas, 55 combatentes curdos e sete civis morreram em Hassake desde o início do ataque contra a prisão, segundo o OSDH.

Em 20 de janeiro, o EI atacou a prisão de Ghwayran, localizada em Hassake e onde milhares de jihadistas estavam detidos, na maior ofensiva do EI desde sua derrota militar na Síria em 2019 contra as forças curdas.

A administração autônoma curda controla grandes regiões do norte e nordeste da Síria.

Os confrontos levaram cerca de 45.000 pessoas que vivem perto da prisão a fugir em temperaturas congelantes, segundo a ONU. Muitos deles se refugiaram em mesquitas ou salões de casamento em Hassake, onde o toque de recolher está em vigor há quatro dias.

As forças curdas, apoiadas pela coalizão antijihadista liderada pelos Estados Unidos, bloqueiam todas as entradas para impedir que os jihadistas fujam para outras regiões.

Nesta quinta-feira, várias famílias se reuniram em um posto de controle na entrada do bairro de Ghwayran para pedir às forças de segurança que as deixassem passar, segundo um correspondente da AFP.

"Viemos ver nossa casa, mas eles nos fizeram voltar porque a situação não é segura", disse Abu Hamza, acompanhado de seus cinco filhos.

- Centenas de crianças -Nas proximidades, duas mulheres com sacolas plásticas cheias de pão também esperavam poder acessar o bairro de Ghwayran, onde, segundo elas, há alguns civis impossibilitados de sair.

"As pessoas ficaram sem pão, sem água, sem nada", disse uma das mulheres à AFP. "Viemos e arriscamos nossas vidas para comprar pão para o bairro e vamos distribuí-lo", acrescentou.

A prisão abrigava pelo menos 3.500 jihadistas - incluindo quase 700 menores - quando o EI lançou seu ataque com caminhões-bomba e armas pesadas.

Tanto a ONU quanto outras organizações de direitos humanos alertaram sobre a presença de centenas de menores na prisão, uma antiga escola convertida em centro de detenção.

"Estamos extremamente preocupados com as centenas de crianças presas em um cerco aterrorizante" desta prisão, disse o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths. "É de importância crucial que todas as crianças sejam evacuadas para ficarem a salvo", completou, durante uma sessão do Conselho de Segurança.

"A recuperação da prisão pelas forças lideradas pelos curdos põe fim a esta fase mortal, mas a crise envolvendo esses prisioneiros está longe de ser resolvida", disse a ONG Human Rights Watch na quarta-feira.

Os prisioneiros que se renderam foram transferidos para centros de detenção mais seguros, disseram as FDS.

As forças curdas exigem há anos a repatriação de quase 12.000 jihadistas de mais de 50 nacionalidades mantidos em prisões sob seu controle.

Mas a maioria dos países ocidentais se recusa a repatriá-los ou o faz lentamente.

Alguns especialistas veem o ataque dos jihadistas como um elemento central no ressurgimento do EI, que recuou para o deserto sírio após sua derrota naquele país e no Egito em 2017.

A guerra na Síria deixou cerca de 500.000 mortos desde 2011.

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