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Irã pede 'declaração política' dos EUA sobre acordo nuclear

16/02/2022 12h51

Teerã, 16 Fev 2022 (AFP) - O Irã pediu nesta quarta-feira (16) que o Congresso americano emita uma "declaração política" para garantir que Washington permanecerá comprometido com uma possível decisão em Viena de restabelecer o acordo nuclear de 2015.

Em negociações que acontecem na capital austríaca para reviver esse pacto, Teerã exigiu garantias firmes de que um futuro governo americano não vai se retirar de um possível acordo, como fez em 2018.

"Por uma questão de princípio, a opinião pública no Irã não pode aceitar como garantia as palavras de um chefe de Estado, muito menos dos Estados Unidos, dada a retirada americana" do acordo, disse o ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amir-Abdollahian.

As observações do ministro aparecem em uma cópia de sua entrevista ao jornal Financial Times publicada no site do Ministério iraniano das Relações Exteriores.

Ele acrescentou que pediu aos negociadores iranianos que proponham às partes ocidentais que "pelo menos seus parlamentos, ou presidentes parlamentares, incluindo o Congresso dos Estados Unidos, possam expressar em uma declaração política seu compromisso com o acordo" e com sua execução.

O acordo de 2015 aliviou as sanções contra Teerã em troca de limites ao seu programa nuclear, mas o ex-presidente Donald Trump retirou os Estados Unidos em 2018 e reimpôs sanções econômicas. Esta mudança levou o Irã a recuar em seus compromissos.

"Os compromissos do Irã são claros como uma fórmula matemática. Está absolutamente claro o que devemos fazer e como essas medidas serão verificadas pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica)", disse o ministro iraniano.

"Mas continuamos preocupados, sobretudo, com as garantias", frisou, acrescentando que "enfrentamos problemas durante este período, porque falta seriedade à outra parte".

As negociações sobre a questão nuclear iraniana foram retomadas no final de novembro, após vários meses de suspensão. Os Estados Unidos participam de forma indireta pela primeira vez desde a chegada à Casa Branca de Joe Biden, que diz querer voltar ao pacto.

Washington disse que está pronto para iniciar conversas diretas com o Irã para resolver questões pendentes, mas Teerã insiste que algumas condições devem ser atendidas antes que os dois arquirrivais possam negociar.

"Não estaremos prontos para iniciar um processo de conversações diretas com os Estados Unidos enquanto não tivermos uma perspectiva clara e promissora para chegar a um bom acordo com garantias duradouras", declarou o chefe da diplomacia iraniana.

"Se os Estados Unidos têm intenções reais' de chegar a um acordo, devem tomar medidas práticas e tangíveis no terreno antes que as negociações e o contato direto possam ocorrer", acrescentou.

Para Amir-Abdollahian, "qualquer diálogo direto, contato e negociação com Washington teria custos enormes para o meu governo".

- Pressão internacional -O Ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian alertou nesta quarta-feira (16) que o Irã tem apenas alguns "dias" para chegar a um acordo sobre seu programa nuclear, sob pena de gerar uma "grave crise" de proliferação.

"Decisões políticas são necessárias por parte dos iranianos. Eles têm uma escolha muito clara diante deles: ou desencadeiam uma grave crise nos próximos dias... ou aceitam o acordo que respeita os interesses de todas as partes".

"Não é uma questão de semanas, é uma questão de dias", acrescentou.

As conversas de Viena, das quais participam Irã, Reino Unido, China, França, Alemanha e Rússia, assim como os Estados Unidos de forma indireta, buscam o retorno de Washington ao pacto nuclear e o levantamento das sanções contra o Irã.

Segundo Le Drian, as partes do acordo, exceto o Irã, "encontraram uma convergência".

As relações entre Estados Unidos e Irã foram rompidas em abril de 1980, alguns meses após a queda do xá e a ocupação da embaixada americana.

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