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Chefe de gabinete do Peru cita Hitler como modelo e gera indignação

8.fev.22 - O Presidente do Peru, Pedro Castillo (esquerda), parabeniza Anibal Torres após ele tomar posse como Chefe de Gabinete em Lima - AFP PHOTO / PERUVIAN PRESIDENCY/ CESAR FAJARDO
8.fev.22 - O Presidente do Peru, Pedro Castillo (esquerda), parabeniza Anibal Torres após ele tomar posse como Chefe de Gabinete em Lima Imagem: AFP PHOTO / PERUVIAN PRESIDENCY/ CESAR FAJARDO

07/04/2022 21h14Atualizada em 08/04/2022 07h49

O chefe do gabinete ministerial do Peru, Aníbal Torres, gerou uma onda de repúdio nesta quinta-feira (7), ao mencionar como modelo a ser seguido o programa de construção de autoestradas de Adolf Hitler na Alemanha nazista.

"Dou-lhes um exemplo: a Itália e a Alemanha eram como nós. Contudo, em uma oportunidade, Adolf Hitler visita o norte da Itália e [Benito] Mussolini lhe mostra uma autoestrada construída de Milão a Bréscia", disse Torres, braço direito do presidente Pedro Castillo.

"Hitler viu aquilo, voltou a seu país e o encheu de autoestradas e aeroportos, e transformou a Alemanha na maior potência econômica do mundo", acrescentou Torres, durante uma sessão pública do gabinete nesta quinta na cidade andina de Huancayo, que depois contou com a presença de Castillo.

De imediato, suas palavras geraram a reprovação de políticos opositores e governistas, e da embaixada da Alemanha em Lima.

"Hitler foi um ditador fascista e genocida, em cujo nome foi travada, a partir da Alemanha, a pior guerra de todos os tempos, e se cometeu o genocídio de 6 milhões de judeus. Diante desse cenário, Hitler não é referência como exemplo em nada", disse a missão diplomática alemã em sua página no Facebook.

"Regimes de morte e terror"

A embaixada de Israel informou que os regimes de Mussolini e Hitler não são exemplo nem de prosperidade, nem de progresso.

"Lamentamos que o discurso político peruano inclua referências como Hitler e Mussolini como exemplo de prosperidade. Regimes de morte e terror não podem ser uma demonstração de progresso", compartilhou em sua conta no Twitter.

Horas depois, no fechamento da sessão do gabinete e na presença de Castillo, Torres disse: "Ao senhor embaixador de Israel, se o ofendi peço desculpas e vamos conversar pessoalmente".

"Se demos como exemplo do progresso da Alemanha nas vias de comunicação é um fato real. Isso não quer dizer que Adolf Hitler não seja considerado um grande criminoso", acrescentou.

A chefe do Congresso peruano, a opositora María del Carmen Alva, tuitou que "o dito pelo premier Aníbal Torres, elogiando o genocida Hitler, ofendeu milhares de peruanos".

"Uma vergonha que o premier Aníbal Torres dá como exemplo a um fascista e genocida como Hitler, agora entendemos de onde provêm medidas errôneas [do governo] como o frustrado toque de recolher" diurno decretado em Lima na terça-feira, disse o legislador governista Alex Flores na mesma rede social.

Hitler iniciou a construção de autoestradas em 1933. Apesar de não ter se tratado de uma ideia original, já que na própria Alemanha outras rodovias foram construídas antes, os nazistas deram destaque para as mesmas em sua propaganda como um símbolo da grandeza do Terceiro Reich.

Quase 4.000 quilômetros de "Autobahnen" ("autoestradas", em alemão) foram construídos até que as obras foram paralisadas em 1941 por causa da Segunda Guerra Mundial.

"Teríamos preferido que não fizesse referência aos méritos de estadista de Hitler. É um desatino que ofende os seis milhões de vítimas do genocídio judaico", disse o apresentador matinal da rádio e televisão RPP, Fernando Cavallo.

Esta não é a primeira vez que Torres, um advogado de 79 anos, menciona Hitler. Em março, ele comparou o ex-presidente Alberto Fujimori, que está preso, com o líder nazista, ao afirmar que "ninguém é julgado por suas obras boas, mas pelas ruins".