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O atirador de Buffalo, um jovem racista isolado e radicalizado na web

Policiais isolam supermercado alvo de ataque de atirador em Buffalo, no estado de Nova York - STRINGER/REUTERS
Policiais isolam supermercado alvo de ataque de atirador em Buffalo, no estado de Nova York Imagem: STRINGER/REUTERS

16/05/2022 18h53

Ele se define como "fascista", "racista" e "antissemita": Payton Gendron, o jovem de 18 anos acusado de matar 10 pessoas negras no sábado em Buffalo, Nova York, se radicalizou por conta própria em redes relacionadas à supremacia branca e à teoria da "grande substituição", ideologias de extrema-direita que avançam nos Estados Unidos.

"Este indivíduo chegou com o objetivo de matar a maior quantidade de negros possível", resumiu no domingo Byron Brown, prefeito da cidade do norte do estado de Nova York.

Um desejo que o suspeito, preso no local, explicou detalhadamente em um manifesto de 180 páginas, onde escreveu: "Sou simplesmente um homem branco que busca proteger e servir minha comunidade, meu povo, minha cultura e minha raça".

O jovem aparece em uma fotografia da polícia com cabelos quase na altura dos ombros, testa franzida e um pouco de barba.

Sua ação mortal foi meticulosamente preparada: no dia anterior ele fez uma exploração no supermercado Tops onde ocorreu o tiroteio, e seu manifesto descreve, minuto a minuto, seu ataque, equipado como um soldado da cabeça aos pés, além de uma câmera para transmitir sua ação ao vivo na plataforma virtual Twitch.

Em julgamento por "assassinato premeditado", Payton Gendron se declarou inocente durante uma primeira audiência neste fim de semana e deve voltar ao tribunal em 19 de maio. Ele pode enfrentar uma sentença de prisão perpétua.

No cano de seu fuzil de assalto comprado legalmente estava escrito uma palavra ofensiva, racista e tabu na América para negros e o número "14", uma referência a um slogan de grupos supremacistas brancos.

Inspirado em outra matança

Payton Gendron nasceu em 2003 e cresceu em uma cidade pequena, bastante rural, quase exclusivamente branca do estado de Nova York, a mais de três horas de carro do supermercado em Buffalo. Ele diz que escolheu este local para seu ataque porque está no bairro com "a maior taxa" de afro-americanos na região.

Uma piada, segundo ele, mas a polícia ficou preocupada com essa ameaça e o mandou para um hospital psiquiátrico, do qual foi liberado alguns dias depois e sem acompanhamento, informou a mídia americana.

Em seu manifesto, ele conta que, em maio de 2020, sofreu de "extremo tédio" devido ao confinamento contra a covid e recorreu ao 4Chan, fórum utilizado pela extrema-direita. Lá ele encontrou sua inspiração: Brenton Tarrant, autor de uma verdadeira carnificina em duas mesquitas da Nova Zelândia em 2019, que matou 51 pessoas. Ele também foi autor de um manifesto.

"Eu li e descobri que, em geral, concordava com ele", disse o jovem. Ele também copiou e colou grandes passagens do texto em seu manifesto, segundo a AFP.

Prioridade do governo federal

No centro de suas preocupações, está a chamada teoria da "grande substituição", popularizada pelo escritor francês Renaud Camus.

"Finalmente, acordei", escreveu o detido. "Nunca mais aceitarei nossa substituição", por populações não brancas, sentenciou.

Apesar de estar imerso nesta tese de conspiração com origens neonazistas, ele costumava fazer sanduíches em uma lanchonete e participou de cursos curtos em uma pequena universidade, mas os abandonou.

Logo após o fim das restrições sanitárias pela pandemia, ele chegou a ir para a escola com um traje semelhante aos usados nas emergências de risco bacteriológico ou químico, segundo ex-colegas entrevistados pelo The New York Times, que o descrevem como um jovem isolado durante a adolescência.

Em seu manifesto, as teorias conspiracionistas apontam principalmente para negros e judeus. Cartas pseudocientíficas se alternam como memes, muitos inspirados no antissemitismo. Seu texto é também um chamado a radicalização "inevitável" para enfrentar "um tentativa de genocídio", escreveu.

Em setembro de 2021, o chefe do FBI mencionou cerca 2.700 investigações por atos de terrorismo doméstico, o dobro de quase um ano e meio atrás. O FBI e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos destacaram equipes especiais para este tema.

Entre os principais atos, extremistas de direita atacaram uma igreja frequentada por negros em Charleston (9 mortos em 2015), uma discoteca gay em Orlando, Flórida (49 mortos em 2016), uma sinagoga em Pittsburgh (11 mortos em 2018), um supermercado frequentado por latinos em El Paso, Texas (23 mortos em 2019).