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'Só restam pedras', dizem os refugiados ucranianos que esperam retornar

19/05/2022 09h50

Carcóvia, Ucrânia, 19 Mai 2022 (AFP) - "Gostaríamos de voltar, mas só restam pedras" em nossas cidades, lamenta Galyna Shystiakova, 60 anos, moradora de Ruska Lozova, ao norte de Kharkiv, palco de confrontos entre russos e ucranianos.

Galyna, com seu lenço vermelho de camponesa amarrado na cabeça, é uma das 80 pessoas que dormem na escola número 420 no distrito de Osnoviansky, um bairro preservado pela guerra no sul de Kharkiv, a segunda maior cidade do país.

Milhares de pessoas retiradas de cidades e bairros bombardeados estão atualmente se refugiando na capital regional, esperando para voltar para casa.

"Não quero lembrar o que aconteceu. Eram bombardeios permanentes. Está tudo destruído, a casa dos vizinhos está destruída. A minha, não sei. Estava de pé quando saímos... estou com vontade de chorar", sussurra Lena Revulsiva, de 60 anos, também originária de Ruska Lozova.

Ela enxuga as lágrimas ao contar sua história após a invasão russa: "Eles nos ocuparam por dois meses e na tarde de 28 de abril houve um ataque. Fomos retirados de ônibus no dia 29. Gostaria de voltar, mas agora tem a artilharia, é melhor ficar aqui. Acho que não vamos poder voltar tão cedo".

O cenário da escola é quase bucólico neste grande bairro. Rodeada por blocos de apartamentos, parece um refúgio de paz com seu grande jardim, espaços verdes e parquinhos.

- "Nossas almas em nossas casas" -"Aqui estamos bem, é tranquilo. Conversamos, passeamos, vamos às lojas que estão abertas. Costuramos", diz Lena, que confessa "não acompanhar as notícias para não reviver más lembranças".

"Aprendemos a nos conhecer", sorri Natalia Vanistorio, funcionária de uma padaria de 50 anos, agora amiga de Lena.

Natalia morava em Saltigallo, um bairro ao norte de Kharkiv que foi duramente atingido pelo fogo de artilharia.

Durante o início da invasão russa em 24 de fevereiro, Natalia se refugiou em um porão de seu prédio junto com outros vizinhos.

"Os morteiros atingiram o prédio, o telhado, o sistema de água. Fomos inundados. Com os vizinhos, comíamos no mesmo prato", diz.

Natalia passou 15 dias no subsolo, antes de ser alojada na casa de uma amiga e depois se refugiar nesta escola. Ainda traumatizada, ela diz que levou três dias "para se livrar do estresse".

"Aqui tudo é confortável, as camas, a alimentação diária, os cuidados médicos... mas deixamos nossas almas em nossas casas", diz.

"Estamos orgulhosos de poder recebê-los e cumprir nosso dever", comenta a vice-diretora do estabelecimento, Viktoria Gorynimova. "Os homens estão na linha de frente, os médicos estão nos hospitais e eu faço o que posso para ajudar".

A diretora diz esperar que as 12 turmas de 244 alunos voltem a receber as crianças "em setembro", apresentando alguns inquilinos especiais que vivem num anexo da escola: são os coelhos de Ruska Lozova que pertencem a Galyna.

"Tínhamos três coelhos quando fugimos, conseguimos levar a fêmea, que estava grávida, e o macho, em uma bolsa. Desde então nasceram filhotes!".

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