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Novos protestos nos EUA contra decisão da justiça sobre aborto

25/06/2022 17h50

Washington, 25 Jun 2022 (AFP) - Os defensores do direito ao aborto se mobilizaram neste sábado (25) por todos os Estados Unidos, no segundo dia de protestos contra a decisão da Suprema Corte, enquanto os estados conservadores começam a proibir o aborto.

O país vive uma nova polarização, entre os estados que já negam ou se preparam para negar o direito ao aborto, vigente há 50 anos, e os que o mantêm.

Após os protestos que se alongaram por toda a noite de sexta-feira, centenas de pessoas voltaram às ruas neste sábado, principalmente em Washington, diante da protegida sede da Suprema Corte dos Estados Unidos.

"Guerra contra as mulheres, quem será o próximo?" e "Sem útero, sem opinião" diziam alguns dos cartazes expostos pelos manifestantes.

"O que aconteceu ontem é indescritível e repugnante", criticou Mia Stagner, de 19 anos, estudante de ciências políticas. "Obrigar uma mulher a ser mãe não é algo que deva ser feito", completou.

Manifestações semelhantes também ocorrem em Los Angeles, uma em frente à prefeitura e outra ao tribunal federal, e em dezenas de cidades em todo o país.

Pelo menos oito estados de direita já impuseram proibições ao aborto e um número semelhante fará o mesmo nas próximas semanas depois que o tribunal derrubou as proteções constitucionais para o procedimento, atraindo críticas de alguns dos aliados mais próximos do aborto.

Muitos temem que a Suprema Corte, que desde o mandato de Donald Trump tem uma clara maioria conservadora, possa agora focar no direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo ou à contracepção.

O presidente Joe Biden, que chamou essa decisão de "erro trágico" decorrente da "ideologia extremista", falou novamente neste sábado de manhã depois de assinar uma lei de controle de armas.

"Sei como esta decisão é dolorosa e devastadora para muitos americanos", disse ele na Casa Branca. "Meu governo se concentrará em como é administrada e se outras leis estão sendo violadas."

Nos estados que restringem severamente ou proíbem e criminalizam o aborto, as mulheres terão que continuar a gravidez, fazer um aborto clandestino, obter pílulas abortivas ou viajar para outro estado onde o aborto ainda seja legal.

- "Pesadelo" -"Infelizmente, veremos alguns cenários de pesadelo", disse a porta-voz de Biden, Karine Jean Pierre, a repórteres no avião presidencial Air Force One, que leva presidente à Europa para as cúpulas do G7 e da Otan. "Isso não é uma hipótese", comentou.

A maioria das mobilizações de sexta-feira transcorreu sem incidentes, embora a polícia tenha disparado gás lacrimogêneo contra manifestantes em Phoenix, Arizona. Na cidade de Cedar Rapids, Iowa, uma caminhonete passou por um grupo de manifestantes e atropelou uma mulher.

No sábado, em Washington, as manifestações foram novamente em sua maioria pacíficas, exceto por alguns gritos entre defensores e opositores do direito ao aborto.

Carolyn Keller, 57, que viajou de Nova Jersey, disse estar irritada com a decisão, alertando: "Eles estão atrás das mulheres. Eles estão atrás da comunidade LGBT e da contracepção".

"O aborto não é uma escolha pessoal, envolve duas pessoas e, infelizmente, essa escolha termina com o fim da vida de alguém", afirmou à AFP Savannah Craven, que se opõe ao aborto.

Para a direita religiosa, a decisão de sexta-feira representa uma vitória, mas seu objetivo final é muito mais ambicioso: proibir o aborto em todo o país.

Esse objetivo parece agora alcançável em cerca de duas dúzias de estados. O Missouri foi o primeiro a proibir o procedimento na sexta-feira, em todos os casos. Outros sete seguiram o exemplo na manhã de sábado: Alabama, Arkansas, Kentucky, Louisiana, Oklahoma, Dakota do Sul e Utah.

Vários estados governados por democratas, prevendo um afluxo de pacientes, já tomaram medidas para facilitar o aborto e três deles (Califórnia, Oregon e Washington) publicaram uma declaração comum para defender o acesso a essas intervenções.

Mas viajar é caro e a decisão da Suprema Corte penalizará ainda mais as mulheres pobres ou que criam sozinhas seus filhos, que estão super-representadas entre as minorias negras e hispânicas, dizem os defensores do direito ao aborto.

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