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América Central, a ponte de milhares de cubanos que migram aos EUA

27/06/2022 09h47

Comayagüela, Honduras, 27 Jun 2022 (AFP) - A cubana Diana Guzmán chegou com sua família em Honduras após um trajeto arriscado por terra desde a América do Sul. Como muitos de seus compatriotas, perdeu tudo quando foi roubada na floresta e pede ajuda para seguir seu trajeto migratório até os Estados Unidos.

Nos alto-falantes de uma empresa de Comayagüela, vizinha à capital Tegucigalpa, soam ritmos tropicais. Diana, de 48 anos, dança com a neta Brianna, de 6. Ela carrega doces que comprou para revender aos transeuntes. São observadas pela irmã (54), pela filha (32) e pelo genro (34). Eles passam por problemas, mas mantêm a alegria.

Esse grupo é mais um exemplo de mudança de tendência na migração que utiliza a América Central para tentar chegar aos Estados Unidos.

Em 2021, Honduras registrou a passagem de 17.590 migrantes em situação irregular, principalmente haitianos.

No entanto, a situação mudou em 2022. Entre janeiro e o início de junho, os migrantes superaram os 44.000 e a maioria vem de Cuba, nação afetada por uma grave crise econômica. Depois deles, chegam os venezuelanos.

Funcionária de um abrigo, Diana e sua família venderam as duas casas que tinham em Cuba e compraram passagens para Guiana, no valor de 1.500 dólares cada uma.

Começaram a viagem há três meses e seguiram por terra para o Brasil, Peru, Equador e Colômbia, até entrar na floresta de Darién, famosa pelos perigos que representa para quem tenta atravessá-la.

"A jornada foi muito difícil porque quando entramos na floresta não pensávamos que enfrentaríamos as dificuldades que encontramos. Fomos roubados na floresta entre o Panamá e a Colômbia", relata Diana.

Segundo ela, foram abandonados nus e amarrados na floresta.

"Roubaram tudo, pisotearam a comida que trazíamos. Roubaram nossos telefones. Estavam vestidos de preto, com espingardas e quem se opusesse ou dissesse algo (...) eles batiam com a espingarda e os deixavam jogados ali", explica.

Horas depois, outros migrantes os encontraram, os desamarraram e lhes deram roupa e alimentos. Uma comunidade indígena do Panamá os acolheu.

"Você caminha pela floresta e as pessoas caem na sua frente. Quando você vai ver, já estão mortas. A floresta é muito difícil, não quero passar por isso nunca mais", confessa Diana.

Segundo as autoridades panamenhas, os haitianos lideraram a passagem por esta floresta em 2021. No decorrer de 2022, venezuelanos e cubanos lideram a lista.

Ao contrário de outros migrantes, vários cubanos que chegam aos Estados Unidos podem se entregar às autoridades, entrar em liberdade condicional e tentar tirar proveito da Lei de Ajuste Cubano (1966), um benefício que remonta à Guerra Fria e permite àqueles que deixam Cuba solicitar residência legal nos Estados Unidos. Outros pedem asilo.

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