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Site de jornalista vencedora do Nobel recebe ordem para encerrar atividades

Jornalista Maria Ressa, ganhadora do Nobel da Paz de 2021, cofundadora da Rappler, empresa de mídia digital voltada ao jornalismo investigativo - SAUL LOEB/AFP
Jornalista Maria Ressa, ganhadora do Nobel da Paz de 2021, cofundadora da Rappler, empresa de mídia digital voltada ao jornalismo investigativo Imagem: SAUL LOEB/AFP

29/06/2022 06h16Atualizada em 29/06/2022 07h18

O site de notícias Rappler, cofundado pela jornalista filipina Maria Ressa, vencedora do Prêmio Nobel da Paz, recebeu ordem para fechar, informou a empresa nesta quarta-feira (29), um dia antes do presidente Rodrigo Duterte - seu grande inimigo - deixar o poder.

Ressa tem sido uma crítica veemente de Duterte e da guerra mortal contra as drogas que ele iniciou ao assumir a presidência em 2016, o que rendeu à jornalista e ao site Rappler uma longa lista de denúncias, investigações e ataques.

A ordem de fechamento foi emitida pela Comissão da Valores Mobiliários das Filipinas.

Em um comunicado, o órgão confirmou a "revogação dos certificados de incorporação" da Rappler por violar "restrições constitucionais e regulamentares à propriedade estrangeira nos meios de comunicação".

O Rappler afirmou que a decisão "confirma efetivamente o fechamento" da empresa, mas informou que pretende recorrer contra a medida, ao descrever o processo como "muito irregular".

Ressa garantiu que o site continuará operacional durante a batalha legal. "Continuamos trabalhando, como sempre", disse a jornalista.

O site teve que lutar para sobreviver diante das denúncias do governo de que violou uma cláusula constitucional que proíbe a propriedade estrangeira para obter financiamento, evasão fiscal e difamação cibernética.

Duterte já chamou o Rappler de "site de notícias falsas".

Maria Ressa, que também tem cidadania americana, e o jornalista russo Dmitri Muratov venceram em outubro o Nobel da Paz por seu esforço "para salvaguardar a liberdade de expressão".

O jornal de Muratov, Novaya Gazeta, suspendeu em março as operações na Rússia após a aprovação de uma lei para punir aqueles que criticam a invasão da Ucrânia.

Ressa enfrenta outros sete casos judiciais, incluindo um recurso contra uma condenação a seis anos de prisão por difamação.

O Centro Internacional para Jornalistas pediu ao governo que revogue a decisão.

"O assédio legal não custa apenas tempo, dinheiro e energia para o Rappler. Permite uma violência online concebida para calar o jornalismo independiente", afirmou a organização no Twitter.

A ordem de fechamento do Rappler foi anunciada na véspera da saída de Rodrigo Duterte da presidência. Na quinta-feira acontecerá a cerimônia de posse de Ferdinand Marcos Jr, filho do falecido ditador de mesmo nome, cujo governo foi marcado por abusos e corrupção.

Os ativistas temem que sua presidência represente um momento ainda pior para os direitos humanos e a liberdade de expressão do país.