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'Tranquilizador' ou 'delirante', as reações em Hong Kong ao discurso do presidente chinês

01/07/2022 11h26

Hong Kong, 1 Jul 2022 (AFP) - O discurso do presidente chinês Xi Jinping, que visitou Hong Kong para celebrar o 25º aniversário da transferência da soberania da colônia britânica, provocou diversas reações entre os moradores de Hong Kong, desde os que consideraram "tranquilizador" até os que chamaram de "delirante".

O Partido Comunista da China dá grande importância aos aniversários e a visita de Xi foi uma oportunidade para reforçar a autoridade de Pequim sobre Hong Kong após três anos de instabilidade política.

"O discurso de Xi reiterou a mensagem enviada a Hong Kong desde a aplicação da Lei de Segurança Nacional", declarou à AFP o analista político Kenneth Chan, da Universidade Batista de Hong Kong.

"A China exerce agora o controle total sobre a cidade, por meio de seus aliados", acrescentou.

Desde que a China impôs a Lei de Segurança Nacional após grandes manifestações pró-democracia no território em 2019, a oposição foi sufocada nesta cidade outrora politicamente vibrante.

A insistência de Xi de que a democracia floresceu, apesar dos anos de repressão política é encarada com desprezo por aqueles afetados pelo controle implacável de Pequim.

Ted Hui, um ex-deputado da oposição que se exilou no exterior depois de ser detido várias vezes, afirma que as palavras de Xi de que a "verdadeira democracia" começou depois que a ex-colônia britânica foi entregue à China são uma "mentira".

"Já nas décadas de 1970 e 1980, o povo de Hong Kong iniciou o próprio movimento democrático e começou a desenvolver nossa sociedade civil", disse à AFP.

Ele afirma que sob o domínio britânico, a cidade nunca teve uma democracia plena, mas que agora "perdemos tanto a democracia formal como seu conteúdo, em particular após a implementação da lei de segurança nacional".

Uma de suas ex-colegas, Emily Lau, afirma que a "verdadeira democracia nunca começou em Hong Kong, nem antes nem depois de 1997", ano da devolução do território à China.

Mas a analista afirma que "agora perdemos, ao mesmo tempo, as liberdades e a democracia".

- 'Um país, dois sistemas' -Depois de receber o presidente Xi em uma estação de trem, o novo chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, chamou a visita de "inspiradora".

Xi reiterou que o princípio "um país, dois sistemas" - modelo de governo acordado por Reino Unidos e China, segundo qual a cidade conservaria uma certa autonomia e as liberdades - funciona bem e não precisa ser alterado.

Lee considerou as declarações do presidente chinês "muito claras e muito sólidas".

Mas nas ruas de Hong Kong, a opinião não é unanimidade. Jonathan Yeung, de 43 anos, considera "risível" a declaração de Xi de que o princípio "um país, dois sistemas" não tem motivo para mudar.

"Foi ele que provocou as maiores mudanças no princípio", disse. "Esse foi um discurso para John Lee, não acho que foi dirigido aos cidadãos de Hong Kong como eu", acrescentou.

Mas o proprietário de uma joalheria que se identificou apenas com o sobrenome Wan, 44 anos, considerou positivo que o presidente Xi tenha estabelecido claramente as prioridades para a próximo administração do território.

Ele concordou com a declaração do presidente chinês de que Hong Kong "não pode se dar ao luxo de cair no caos".

"Os últimos anos foram muito difíceis, não importa a linha política e o trabalho da pessoa", disse Wan, em referência aos grandes protestos organizados no território.

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