Desinformação sobre a covid reforça o movimento antivacinas
Washington, 5 Jul 2022 (AFP) - Muitos pais questionam a necessidade de aplicar vacinas de rotina em seus filhos. Os adultos também estão se vacinando menos, inclusive com imunizações que contam com um longo histórico de segurança.
A tendência chega em meio a uma onda de desinformação sobre a covid-19 e as vacinas que ajudaram a conter as mortes por causa da pandemia. A politização dessas vacinas reafirmou o movimento contra elas, que contribuiu à queda na aplicação de doses contra o sarampo, a poliomielite e outras doenças perigosas.
"Perguntam se é realmente necessário ou se é possível vacinar depois", conta Jason Terk, porta-voz da Academia Americana de Pediatria. "Não se trata da maioria dos pais, mas estamos vendo um número maior", acrescenta Terk.
As taxas de imunização de rotina estão caindo e cresce a preocupação com o ressurgimento de doenças que foram erradicadas em muitas partes do mundo.
Nos Estados Unidos, a porcentagem de crianças em idade pré-escolar que têm as imunizações recomendadas caiu um ponto para 94% durante o ano letivo de 2020-2021, o que significa que quase 35.000 crianças não são vacinadas.
"Parece que a origem está na rejeição à vacinação contra a covid-19 e o aumento da desconfiança com as vacinas e os órgãos em que confiamos para nos manter sãos", aponta Terk.
Alguns estados registraram mudanças, especialmente durante o pico da pandemia: houve uma redução de 47% nos índices de imunização no Texas em bebês de cinco meses e uma queda de 58% em crianças de 16 meses de idade entre 2019 e 2020.
A publicação científica Vaccine reúne pesquisas que afirmam que esse declínio é resultado de restrições de confinamento e isenções de vacinas, mas também de "um movimento antivacina agressivo no Texas".
O estado de Washington relatou uma queda de 13% nas taxas de imunização infantil em comparação com os níveis pré-pandemia e a taxa de imunização infantil de Michigan caiu no ano passado para 69,9%, a menor da década.
- Os adultos também -Os índices de vacinação em adultos e adolescentes também caíram em vacinas contra doenças como gripe, hepatite, sarampo, tétano ou herpes zóster, segundo a consultora de saúde Avalere, que analisa as demandas das seguradoras.
Isso levou à perda de aproximadamente 37 milhões de doses de vacinas desde janeiro de 2020 até julho de 2021 em adultos e crianças de sete anos ou mais, segundo as pesquisas da Avalere.
As redes sociais contribuíram para a criação de uma coalizão que inclui antivacinas, libertários e figuras políticas conservadoras. Atores de desinformação da Rússia e de outros lugares amplificaram esses segmentos, diz David Broniatowski, professor da Universidade George Washington e diretor associado do Instituto de Dados, Democracia e Política.
"As pessoas se opuseram às vacinas desde sua existência, mas se sofisticaram nos últimos 10 anos e boa parte disso deve-se à habilidade de se organizar a partir de vínculos estabelecidos nas redes sociais", explica Broniatowski.
"Uma das principais mudanças que vimos é uma mudança na concepção da vacinação per se de uma questão de saúde para uma questão política de direitos civis", acrescenta.
Em relação às teorias da conspiração que surgiram durante a pandemia, uma pesquisa do YouGov de 2021 descobriu que 28% dos americanos e um número significativo de pessoas em outros países acreditam que a verdade sobre os efeitos nocivos das vacinas está sendo "escondida deliberadamente".
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