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Serguei Jirnov, ex-espião da KGB e crítico de Putin

06/07/2022 09h32

Paris, 6 Jul 2022 (AFP) - Até 1992, Serguei Jirnov era um espião russo que vivia de maneira "ilegal" na França. Três décadas depois, ele aparece nas emissoras de televisão do país e critica o presidente Vladimir Putin, que segundo ele é capaz de fazer o pior e "entrar para a História".

A trajetória do ex-agente de 61 anos cruzou em quatro ocasiões com a daquele que se tornaria o poderoso chefe de Estado da Federação da Rússia. Um homem que ele "despreza", como afirma no livro "L'engrenage" (A engrenagem), publicado na França em junho.

Putin "é russo como eu, mas encarna tudo o que não gosto: cinismo, mentiras, falta de empatia, brutalidade", alerta nas primeiras páginas do livro.

A primeira vez que encontrou com ele, quando era um simples estudante, Jirnov afirma ter sido "torturado psicologicamente" pelo futuro presidente, já na KGB, porque havia conversado por muito tempo em francês com um estrangeiro durante os Jogos Olímpicos de Moscou em 1980.

"Vi esse homenzinho que queria a qualquer preço (...) fazer de mim um espião francês ou um dissidente para progredir na carreira", disse à AFP.

Mas Vladimir Putin fracassou. E Serguei Jirnov, filho de cientistas e aluno brilhante, entrou em 1984 no Instituto Andropov, a escola de elite da KGB, onde encontrou o futuro presidente, de origem mais modesta.

- "Mediocridade" -Ele voltaria a ter contato com Putin em outras duas oportunidades, quando já trabalhava como espião. No último encontro, em 1990, "tenho diante de mim um homem que fracassou na carreira de espião, por falta de inteligência, por culpa de uma ambição que o cegava, por mediocridade", afirma no livro.

Mas em 1991, quando o agente Jirnov se infiltra na Escola Nacional de Administração (ENA), famoso centro de estudos da elite em Paris, a KGB primeiro, o Partido Comunista em seguida e finalmente a URSS entram em colapso.

"Foi a oportunidade da minha vida", afirma. Após um ano no SVR, a instituição responsável pelos serviços de inteligência no exterior da nova Rússia, pede demissão vira um consultor privado.

"Meu juramento solene, eu prestei a um organismo que não existia mais", não a Putin, disse.

Uma década depois, seu passado o perseguiu em Moscou, onde afirma ter sido vítima de "envenenamento com metais pesados" por parte de seu antigo comandante. "Um mês depois, percebo que sou seguido com frequência. Eu disse que tinha que sair daqui".

Em 2002, ele partiu para o exílio na França.

- "Canalha" -Desde então, a imprensa se apaixona por Jirnov, um daqueles personagens para quem "às vezes a realidade supera a ficção", comenta François de Saint-Exupéry, diretor da editora Nimrod, que publicou "L'éclaireur" (O explorador), no qual o ex-espião conta sua vida.

Com a invasão russa da Ucrânia, Jirnov multiplica suas participações em programas de TV. O homem das sombras aparece na luz, uma "ironia" que ele gosta e considera conveniente, porque sua "única proteção é a publicidade", explica.

Diante das câmeras e em seus livros, ele se mostra "muito anti-Putin, mas corresponde ao que as pessoas têm vontade de ouvir", considera Olivier Mas, um ex-espião francês que também tem forte presença na imprensa.

"Ele conhece muito bem a mentalidade russa, o funcionamento (do Estado), tem um ótimo padrão de interpretação", acrescenta, antes de destacar os "contatos" que Jirnov ainda tem na Rússia.

Para a AFP, ele zomba de Putin, que se tornou um "velhinho", em meio a boatos sobre sua saúde. Mas de acordo com o ex-espião, o presidente pode continuar no poder por muito tempo e ele antecipa o pior, inclusive a nível nuclear.

"Acredito que ele tem a intenção de entrar para a História como o segundo a ter utilizado esta arma", teme. "Mesmo que vire o maior canalha e ditador" das últimas décadas.

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