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Israel e Jihad Islâmica iniciam uma frágil trégua em Gaza

07/08/2022 13h02

Israel e o grupo armado palestino Jihad Islâmica iniciaram uma precária trégua na noite de domingo (7), que entrou em vigor às 23h30 locais (17h30 de Brasília), após três dias de hostilidades que custaram a vida de dezenas de palestinos, incluindo crianças, em ataques israelenses à Faixa de Gaza. 

Até poucos minutos antes do início do cessar-fogo, obtido graças à mediação egípcia, o exército israelense realizou ataques contra posições da Jihad Islâmica no enclave palestino "em resposta a foguetes disparados" contra o sul do território israelense, onde soaram sirenes de alerta.

O acordo negociado pelo Egito visa deter a violência que já deixou 44 palestinos mortos, entre eles 15 crianças, e é o pior confronto em Gaza desde a guerra de 11 dias do ano passado.

O enviado da ONU para o Oriente Médio, Tor Wennesland, celebrou o acordo no Twitter, mas lembrou que "a situação continua muito frágil". "Peço a todas as partes que respeitem o cessar-fogo."

Tanto a Jihad Islâmica quanto Israel aceitaram a trégua, mantendo ambas as partes o direito de resposta em caso de futuras agressões.

"Se o cessar-fogo for violado, o Estado de Israel se reserva o direito de responder com firmeza", disse o gabinete do primeiro-ministro israelense, Yair Lapid, que agradeceu ao Egito "por seus esforços".

O acordo de trégua inclui "o compromisso do Egito de agir em favor da libertação de dois prisioneiros, (Basem) Al Saadi e (Khalil) Awawdeh", afirmou em um comunicado Mohamed Al Hindi, chefe do braço político da Jihad Islâmica.

- 15 crianças mortas -

O Ministério da Saúde de Gaza anunciou neste domingo que mais 17 pessoas, incluindo nove crianças, foram mortas por ataques israelenses.

Desde sexta-feira, "43 palestinos caíram como mártires, entre eles 15 crianças" e "311 ficaram feridos", segundo o balanço mais recente do ministério do enclave.

Em Gaza, "a situação é muito ruim", disse à AFP Mohamed Abu Salmiya, diretor do hospital Shifa, da cidade. "Chegam feridos a cada minuto", acrescentou.

A vida diária em Gaza foi paralisada e a única central de energia elétrica do território teve que interromper as atividades no sábado por falta de combustível, provocada pelo bloqueio das entradas no enclave por parte de Israel desde terça-feira.

O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) alertou para o "grave risco" que o conflito representa para a "continuidade dos serviços básicos essenciais".

- Foguetes contra Jerusalém e Tel Aviv -

No domingo, a Jihad Islâmica lançou pela primeira vez foguetes em direção a Jerusalém, mas eles foram abatidos pelo exército.

Os disparos ocorreram quando centenas de israelenses comemoravam uma festa judaica em Jerusalém, com a visita de nacionalistas à Esplanada das Mesquitas, o terceiro lugar sagrado do Islã, mas também o mais sagrado para o judaísmo, que o conhece como Monte do Templo. 

No sul e no centro de Israel, os civis foram forçados a se refugiar em abrigos antiaéreos.

Desde sexta-feira, pelo menos duas pessoas foram hospitalizadas com ferimentos causados por estilhaços e outras 13 ficaram levemente feridas em Israel, segundo o serviço de emergência Magen David Adom.

Israel, por sua vez, afirmou ter neutralizado toda a "alta cúpula da ala militar da Jihad Islâmica em Gaza".

Isso inclui Taysir al Jabari 'Abu Mahmud', um dos principais líderes do grupo armado, executado em Gaza na sexta-feira, e Khaled Mansur, outro alto comandante, abatido em um ataque em Rafah. As mortes foram confirmadas pela Jihad Islâmica.

A prisão na segunda-feira de Al Saadi, outro líder da Jihad na Cisjordânia ocupada, iniciou essa nova escalada de violência na região.

- Hamas à margem -

Israel justificou seus primeiros ataques na sexta-feira com temores de possíveis represálias da Jihad a partir da Faixa de Gaza, enclave de 362 km2 onde vivem 2,3 milhões de pessoas e que está sob bloqueio israelense há mais de 15 anos. 

Em resposta aos bombardeios, o grupo armado, apoiado pelo Irã e incluído na lista de organizações terroristas dos Estados Unidos e da União Europeia, disparou centenas de foguetes contra Israel. 

Neste domingo, o exército israelense anunciou a detenção de 20 membros da Jihad Islâmica na Cisjordânia ocupada. Outros 20 militantes da organização foram detidos no sábado.

O Hamas, movimento islamita que governa Gaza desde 2007, fez um alerta em um comunicado contra as "incursões" israelenses que poderiam levar a uma situação "fora de controle". 

O movimento, que já travou diversas guerras contra Israel, permanece à margem do atual conflito.

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© Agence France-Presse