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Junta militar do Chade assina acordo para iniciar negociações de paz

08/08/2022 08h13

A junta militar que governa o Chade assinou nesta segunda-feira (8) no Catar um acordo com mais de 40 grupos da oposição, mas sem a participação de duas das principais forças rebeldes, para iniciar um diálogo nacional no fim do mês.

O acordo, que prevê o início de discussões em 20 de agosto na capital N'Djamena, deve preparar o caminho para a volta de um governo civil ao país africano. 

Porém, a Frente para a Alternância e a Concórdia no Chade (FACT) e o Conselho do Comando Militar pela Salvação da República (CCMS), dois dois principais grupos rebeldes, se recusaram a assinar o acordo. 

"A rejeição é concomitante com o fato de que nossas reivindicações não foram consideradas, como a libertação dos presos", afirmou FACT em um comunicado.

O líder do grupo, Mahamat Mahdi Ali, criticou "um diálogo tendencioso de antemão". "A guerra não resolve nada, queremos uma solução pacífica e política, mas quando formos obrigados a nos defender, nos defenderemos", disse à AFP.

O CCMSR afirmou que os "princípios pelos quais lutamos não nos permitem participar em um diálogo sobre o qual não conhecemos os objetivos". 

Vários movimentos do país africano negociam há cinco meses, com a mediação do Catar, para tentar acabar com décadas de instabilidade neste país de 16 milhões de habitantes.

No total, 42 dos 47 grupos representados nas negociações de Doha assinaram o acordo. 

- "Momento-chave" -

O governo oferece um cessar-fogo e garantias de segurança aos líderes rebeldes que pretendem comparecer a N'Djamena em 20 de agosto.

Durante o diálogo, eles devem decidir sobre a organização das eleições presidenciais previstas para outubro.

A história do Chade independente, colônia francesa até 1960, está marcada por golpes de Estado ou tentativas e rebeliões.

Após a morte do presidente Idriss Deby Itno, que faleceu durante um combate contra os rebeldes em abril de 2021, seu filho, o jovem general Mahamat Idriss Deby Itno, foi proclamado presidente à frente de um Conselho Militar de Transição.

Ele prometeu eleições livres e democráticas em um prazo de 18 meses, após um "diálogo nacional e inclusivo" com a oposição política e os movimentos rebeldes.

O acordo é um "momento chave para o povo do Chade", afirmou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, em um vídeo exibido na cerimônia oficial em Doha.

Guterres destacou, no entanto, a necessidade de um diálogo "inclusivo" para que o acordo possa ser implementado. 

"Nossa porta continua aberta aos grupos que não assinaram", disse o ministro da Comunicação e porta-voz do governo, Abderaman Koulamallah.

O acordo busca implementar "uma paz que substitua a agitação e os conflitos que o país viveu durante muitos anos", afirmou o ministro das Relações Exteriores do Catar, Mohammed ben Abderrahman Al Thani.

Mas para Jérome Tubiana, pesquisador francês especializado na história do Chade, o acordo "não resolve a questão da oposição armada, já que alguns dos principais grupos não assinaram".

A ausência da assinatura da FACT deixa o diálogo nacional "em uma situação de incerteza", concorda Kelma Manatouma, cientista política chadiana, embora ela reconheça o "passo importante no processo de apaziguamento".

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© Agence France-Presse