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População chinesa tem opiniões diferentes sobre crise com Taiwan

08/08/2022 07h55

A indignação da China pela visita da congressista americana Nancy Pelosi a Taiwan despertou o fervor nacionalista de alguns internautas chineses, mas as opiniões nas ruas são mais variadas.

Em resposta à visita de Pelosi, a China iniciou as maiores manobras de sua história em Taiwan e suspendeu sua cooperação com os Estados Unidos em vários temas importantes, incluindo as mudanças climáticas. 

Mas o que os chineses pensam sobre isso?

É difícil ter uma ideia geral, já que as autoridades controlam estritamente as discussões na Internet, com um sistema de censura que apaga as publicações mais negativas sobre a política do governo.

Os especialistas acreditam que a população está majoritariamente a favor da reunificação com Taiwan e não aceitaria a independência da ilha sob nenhuma circunstância.

Os internautas mais extremistas pedem uma guerra, mas nas ruas as pessoas com quem a AFP conversou são mais moderadas e esperam principalmente um retorno à calma.

"Não me preocupa muito porque acho que não haverá (uma guerra) (...). Quem usar a força primeiro cometerá um erro", estima Zhao, chinês que forneceu apenas o sobrenome.

O governo chinês considera Taiwan - onde os nacionalistas chineses se refugiaram quando Mao Tsé-Tung e os comunistas tomaram o poder na China em 1949 - como uma província que algum dia será reunificada com o resto de seu território, pela força se necessário. Este objetivo é compartilhado por grande parte da população.

"Muitos chineses esperam algum dia uma reunificação com Taiwan. É uma ideia que nos ensinaram desde crianças e considerada politicamente correta", explica Zhao, de 29 anos.

"Mas há poucos debates profundos sobre o assunto, já que a internet não permite uma variedade de opiniões e os debates na vida real acabam facilmente em brigas", acrescenta.

Para David Sacks, pesquisador do 'think tank' americano Council on Foreign Relations, a visita de Pelosi aconteceu no pior momento para o presidente chinês Xi Jinping.

O presidente quer forjar, diante de seus compatriotas, uma imagem de força e estabilidade para o 20º Congresso do Partido Comunista, que deve, salvo surpresas, conceder-lhe um terceiro mandato. 

"É provável que Xi sentisse que tinha que agir, por medo de parecer fraco ou passar por alguém que não tem sob controle a relação (sino-americana), a mais importante para a China", explica Sacks, entrevistado pela AFP .

Segundo Jocelyn Chey, ex-diplomata australiana e professora na Universidade de Sydney, as sanções comerciais contra Taiwan e as manobras militares "são bem recebidas" pela população chinesa.

Mas ocorrem em um momento em que o gigante asiático enfrenta um período de crise pelos mais de dois anos de restrições para frear a covid-19, com uma população cansada dos confinamentos sucessivos e do fechamento das fronteiras internacionais, disse.

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© Agence France-Presse