Rússia e Ucrânia se acusam de novos bombardeios na região da usina nuclear de Zaporizhzhia
Rússia e Ucrânia se acusaram nesta quinta-feira (11) pelos bombardeios nos arredores da usina nuclear ucraniana em Zaporizhzhia, onde a situação é "grave", alertou o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Os dois países em guerra relataram cinco ataques com foguetes perto de uma área de armazenamento de material radioativo na usina, a maior da Europa, localizada no sul da Ucrânia.
O operador das usinas ucranianas, Energoaton, anunciou logo após um novo bombardeio russo perto de um dos seis reatores da usina, que causou "uma grande fumaça" e danificou "vários sensores de radiação".
A usina ucraniana em Zaporizhzhia ficou sob o controle das tropas russas em 4 de março, logo após o início da invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro. A Ucrânia acusa a Rússia de ter enviado tropas para as instalações da usina e de ter estocado armas.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu o "fim imediato" de todas as atividades militares em torno da instalação e alertou que a continuação das hostilidades poderia "levar a uma catástrofe".
O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, disse ao Conselho de Segurança da ONU que "a situação é séria, grave" nos arredores da central nuclear e pediu aos russos e ucranianos que permitam a entrada no local de uma missão da agência "o quanto antes".
Durante a reunião de duas horas, todos os membros do Conselho de Segurança apoiaram a missão, mas não entraram em acordo sobre quem é responsável pelos ataques ou quem deve organizar a visita.
A representante dos Estados Unidos, Bonnie Jenkins, assim como outras delegações, instou a Rússia a retirar suas forças armadas do local para que a Ucrânia possa "restaurar a segurança impecável, a proteção e salvaguardas que implementou por anos na usina".
Os Estados Unidos defenderam a ideia de criar uma zona desmilitarizada ao redor da usina. A pedido da Rússia, o Conselho de Segurança da ONU examinará a situação de segurança na fábrica nesta quinta-feira.
Um porta-voz americano se mostrou favorável à criação de uma zona desmilitarizada ao redor da central nuclear.
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, foi nessa mesma linha e denunciou a "chantagem nuclear russa". "Somente a retirada dos russos garantirá a segurança nuclear de toda a Europa".
"O mundo inteiro precisa reagir imediatamente para expulsar os ocupantes russos da central de Zaporizhzhia", completou Zelensky, que nos últimos dias tem alertado que Moscou pode provocar um acidente pior que o de Chernobyl, em 1986.
- "Estado terrorista" -
A usina Zaporizhzhia, perto da cidade de Energodar, às margens do rio Dnieper, possui seis dos 15 reatores ucranianos, capazes de fornecer energia a quatro milhões de residências.
"A Rússia transformou a usina nuclear em um campo de batalha", disse Zelensky em um discurso por videoconferência em uma reunião de doadores em Copenhague.
O presidente ucraniano pediu sanções mais duras contra a Rússia, chamando este país de "Estado terrorista".
Na mesma linha, o Parlamento da Letônia, país membro da União Europeia (UE) e da Otan, declarou a Rússia um "estado patrocinador do terrorismo" e considerou que suas ações na Ucrânia constituíam "genocídio".
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova, considerou a declaração como "xenofobia primária".
- "Cada dia fica pior" -
Os combates continuam no leste da Ucrânia, onde separatistas apoiados pela Rússia combatem as forças ucranianas desde 2014. Em Nikopol (sudeste), a cem quilômetros da fábrica de Zaporizhzhia, o governador Valentyn Reznichenko informou no Telegram três mortos e nove feridos em bombardeios noturnos russos.
No Donbass (leste), o chefe da administração militar da região de Donetsk, Pavlo Kyrylenko, anunciou a morte de 11 civis nas últimas 24 horas: seis em Bakhmut, três em Soledar, um em Krasnogorivka e um em Avdivka.
Em Soledar, os poucos moradores restantes vivem em abrigos subterrâneos. "Esperamos boas notícias, mas a cada dia piora", disse Svitlana Klymenko, 62, enquanto bombardeios implacáveis eram ouvidos do lado de fora.
As tropas russas, que bombardeiam Soledar implacavelmente, tentam expulsar o Exército ucraniano de lá para avançar em direção a Bakhmut.
Os credores da Ucrânia concordaram com uma moratória de dois anos no pagamento de sua dívida externa de US$ 20 bilhões, dado o grave impacto da invasão russa em sua economia.
"Isso permite que a Ucrânia mantenha a estabilidade macrofinanceira e fortaleça a sustentabilidade econômica", disse o primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmygal, no Twitter.
O PIB da Ucrânia pode sofrer uma retração de 45% este ano, de acordo com as últimas estimativas do Banco Mundial.
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© Agence France-Presse
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