Topo

Pró-russos ou pró-ucranianos? Habitantes do leste da Ucrânia estão divididos

12/08/2022 09h11

Quando Nadiya Gorbunova fala sobre seus vizinhos fazendo fila do lado de fora de uma agência dos correios na cidade de Mykolaivka, no leste da Ucrânia, ela atravessa a rua e baixa a voz. 

Essa mulher suspeita que 80% deles apoiam as tropas russas mobilizadas do outro lado do rio e as reivindicações do Kremlin na região do Donbass, onde Mykolaivka está localizada. 

"Não há confrontos físicos, mas a agressividade pró-Rússia é palpável", disse Gorbunova, 58 anos, à AFP. Sua lealdade é clara. Ela carrega uma mochila com a imagem de um santo ucraniano destruindo um tanque inimigo com uma espada flamejante. 

O conflito entre a Rússia e a Ucrânia está corroendo as comunidades na linha de frente, no epicentro da ofensiva russa. "Não há amor ou harmonia", diz Gorbunova.

- Divididos -

O conflito começou no Donbass em 2014, após uma revolução pró-ocidental na Ucrânia e a anexação da Crimeia pela Rússia. As forças ucranianas lutaram contra os separatistas pró-russos que receberam apoio militar e financeiro da Rússia e tomaram parte da região. 

Os habitantes da região são predominantemente de língua russa, embora as pessoas que se identificam como russas sejam uma minoria. 

Na cidade fronteiriça de Bakhmut, o som constante do fogo de artilharia ecoa pelos prédios de apartamentos em sua maioria abandonados, e a cidade é atravessada por bloqueios de estradas e tanques. 

Também está dividida por outras linhas de demarcação. "A população está dividida em dois campos", diz Sergei Nikitin, 52 anos.

"Cada um tem sua opinião, mas todo mundo fica de boca fechada", diz ele. No entanto, Nikitin dá algumas dicas sobre a dele. 

Ele fala sobre a "degradação" da Ucrânia, o fechamento de fábricas desde o fim da União Soviética e as possibilidades de emprego na Rússia.

Mykhaylo Matsoyan, 38, lembra de ouvir seus vizinhos em Bakhmut dizerem que "seria ótimo se os russos viessem". 

"Nós quase brigamos, então eu tive que sair. Você não pode provar nada para os tolos", diz ele.

- "Todos queremos a paz" -

Outro morador, saindo de uma farmácia, prefere guardar suas opiniões para si. "Todos nós queremos paz. Não faço distinções. Eu amo todos, sou pela paz", diz Dmitriy, 40 anos. 

"Quando nos deparamos com pessoas pró-Rússia, explico a elas que não fomos nós que invadimos o país", diz Sergei, um soldado ucraniano de 56 anos. 

"Eu sempre digo, se eu for com pão na casa do meu vizinho, ele vai arrumar a mesa, mas se eu for com uma arma, ele se defenderá", acrescenta. 

A cidade vizinha de Soledad fica perto das áreas controladas pelos russos. Lá os bombardeios são constantes e a devastação da cidade é quase total. 

"Estamos esperando que tudo isso passe", diz Oleg Makeev, de 59 anos. "Russos ou ucranianos, não nos importamos, tudo o que queremos é uma vida tranquila, nada mais."

jts/dt/meb/mar/jc

© Agence France-Presse