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Aung San Suu Kyi é condenada a mais seis anos de prisão em Mianmar

15/08/2022 07h43

A junta militar no poder em Mianmar aperta cada vez mais o cerco contra Aung San Suu Kyi. Já condenada a 11 anos de prisão, a ex-governante foi sentenciada a uma pena adicional de seis anos de detenção em um grande julgamento, denunciado como político pela comunidade internacional e uma "afronta à Justiça" por Washington.

A vencedora do prêmio Nobel da Paz, de 77 anos, foi declarada culpada de quatro acusações de corrupção.

Suu Kyi compareceu ao tribunal militar com aparente boa saúde, segundo uma fonte próxima ao caso, e não fez comentários após a leitura do veredicto.

Desde que foi detida em 1º de fevereiro de 2021 após o golpe militar, a ex-governante permanece presa em um local secreto de Naipyidaw, a capital de Mianmar. O golpe encerrou uma década de período democrático no país.

O processo, que começou há um ano e acontece a portas fechadas, prosseguirá no local em que Suu Kyi está detida. Seus advogados a aconselharam a não falar com a imprensa e organizações internacionais.

Ela é processada pela junta militar por várias infrações, entre elas por ter violado várias vezes uma lei sobre segredos de Estado, por fraude nas eleições de 2020 - vencidas por seu partido -, sedição, corrupção e outras acusações.

Ela pode ser condenada a várias décadas de prisão ao final do julgamento.

- "EUA: afronta à Justiça" -

"A injusta detenção, condenação e sentença do regime militar" de Mianmar contra a Prêmio Nobel da Paz "é uma afronta à Justiça e ao Estado de direito", disse um porta-voz do Departamento de Estado.

O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, denunciou a "injusta" condenação e pediu ao "regime birmanês liberar Suu Kyi imediatamente e sem condições, bem como todos os presos políticos, e respeitar a vontade popular".

"Os processos fabricados pela junta, a tortura dos presos e a execução de ativistas ilustram de forma clara o desprezo pela vida em Mianmar", declarou em comunicado a ONG Human Rights Watch, que classificou a condenação como "ilegítima".

Para o analista político David Mathieson, "alheios à indignação nacional e internacional, os julgamentos para castigar Suu Kyi e seu entorno tem como objetivo apagar o passado democrático" de Mianmar.

Várias vozes denunciaram uma crueldade judicial motivada por circunstâncias políticas e com o objetivo de aniquilar a filha do herói da independência e grande vencedora das eleições de 2015 e 2020.

Aung San Suu Kyi continua sendo uma figura muito popular em Mianmar, mesmo que sua imagem internacional tenha sido afetada por sua incapacidade de defender a minoria muçulmana dos rohingyas, vítimas de perseguições e abusos do Exército em 2016 e 2017, um "genocídio" segundo o governo dos Estados Unidos.

Vários opositores da junta militar acreditam que a luta deve ir além do futuro da prêmio Nobel, para acabar com o regime militar. Milhares deles pegaram em armas em várias regiões de Mianmar, contrariando o princípio da não violência defendido por Aung San Suu Kyi.

O exército defende seu projeto de organizar eleições em 2023. Washington já rejeitou o que qualificou como "simulação" de eleições que não podem ser "nem livres, nem justas nas condições atuais", segundo o secretário de Estado, Antony Blinken.

A junta tomou o poder alegando supostas fraudes nas eleições de 2020, vencidas com folga pelo partido de Suu Kyi. Desde o golpe, mais de 2.100 civis morreram em ações violentas e mais de 15.000 estão detidos, segundo uma ONG local.

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© Agence France-Presse